POÉTICAS DO ACESSO À CENA: TEATRO E ARTISTAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Essa pesquisa se propõe a discutir algumas das provocações e proposições poéticas e epistêmicas decorrentes da ação de artistas cegos/as no teatro brasileiro. Para tanto, foi realizado um estudo de cunho qualitativo, exploratório e descritivo, analisando as obras e abordagens criativas de catorze grupos teatrais nacionais: o Teatro Cego (SP); o Teatro dos Sentidos (RJ | DF); o Sensus (SP); o Noz Cego (BA); o Coletivo GRÃO – Arte e Cidadania (SP); os Arteiros (online); o Coletivo Desvio Padrão (SP); o projeto Teatralizando | IPC (PR); a Cia Fluctissonante (PR); a Cia Pé de Ator (SP); a Má Companhia (RS); o grupo Teatral Benjamin Constant (RJ) e o Corpo Tátil (RJ). No percurso investigativo, as criações desses grupos foram organizadas e discutidas ao redor de três Eixos temáticos. O primeiro, nomeado de Os Sentidos (e o não-ver), apresenta quatro poéticas que rasuram as dimensões visuais da cena, orientando-se pela não-vidência e multissensorialidade à sua produção e fruição. No segundo Eixo, As Palavras, são apresentadas possibilidades de composição cênica que vinculam à dramaturgia recursos descritivos e narrativos, tornando poeticamente acessíveis as dimensões visíveis da cena. O terceiro Eixo, A Mimese, discute as estratégias táteis-cinestésicas desenvolvidas por dois grupos para auxiliar o trabalho de construção e caraterística física de personagens dramáticas. O estudo concluiu que, quando a cegueira é compreendida como um substrato inventivo, como lócus de conhecimento, a presença de artistas com deficiência visual transforma a arte teatral, uma vez que suas criações e intervenções cênicas mobilizam viradas estéticas, éticas, políticas e criativas, reivindicando e propondo outros modos de se fazer, experienciar e ensinar-aprender teatro.