Jongo-funk: decolonialidade e expressões de matrizes africanas no ensino de artes
Resumo
De acordo com as ideias de Mariano Enguita (1989), a história da educação brasileira foi forjada para dar margem a um projeto de submissão, lucro e dominação, à serviço dos objetivos daqueles que aqui tinham posses: a Igreja, a Coroa e o Mercado. Esse processo acabou resultando na desvalorização e colonização dos saberes e conhecimentos tradicionais dos povos escravizados, os indígenas e africanos — sendo os negros(as), as maiores vítimas de discriminação e preconceito. Considerando tais dificuldades o governo federal, através da Lei nº 10.639, passou a incluir no currículo oficial da Rede Nacional de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Ainda assim, Nilma Lino Gomes (2008) afirma que o ensino das relações étnico-raciais continua encontrando barreiras e resistências na comunidade escolar. A experiência subjetiva da cultura da colonialidade permanece presente no imaginário de muitos estudantes, sugerindo uma ideia depreciativa da identidade negra. Desse modo, a pesquisa pretende delinear caminhos para a construção de uma pedagogia decolonial, que assegure representações positivas dos afro-brasileiros e que tenha como foco uma educação com base no respeito à diversidade. Através do cantar-dançar-batucar (Ligiéro, 2011), propomos a investigação de um léxico próprio das performances culturais brasileiras que tem origem e influência das tradições africanas, o jongo e o funk. Estabelecendo uma aproximação entre essas duas expressões, pretendemos estimular o interesse dos alunos(as) — e, por extensão, de toda a comunidade escolar — a fim de que o corpo discente possa desmitificar certos aspectos artístico-culturais de matrizes africanas (até hoje vistos sob uma perspectiva negativa) muito presentes no cotidiano do próprio corpo discente, de tal modo que, ao reconhecer esses aspectos, os estudantes possam ressignificar e valorizar a negritude.
Referências
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