Como nasce uma atriz: explorações em torno do saber-fazer das atrizes, a partir de intersecções entre gênero, corpo e trabalho
Resumo
Este texto busca traçar alguns percursos do trabalho da intérprete em teatro, em algumas de suas transformações históricas, tecendo relações entre os contextos internacionais diversos, a fim de encaminhar um desenho do quadro brasileiro. Serão abordados aspectos da profissão (e profissionalização) das atrizes e sua inserção no campo social, assim como dilemas estéticos que envolvem a presença e participação delas nas artes cênicas, colocando gênero, corporeidade e trabalho como categorias essenciais para a análise dos processos cênicos da intérprete. O texto constrói-se a partir de levantamentos sobre a história da atriz, priorizando a leitura de autoras que questionam as exclusões de gênero no campo das artes performativas e buscando observar criticamente a narrativa histórica, numa espécie de “história delas". A partir dessas considerações, busca-se esboçar um exame das hierarquias relativas ao sujeito mulher, existentes também na área da interpretação no teatro, bem como apontar seus reflexos nas formas de abordar teoricamente a prática da atriz, consignas que se estruturam com base em pressupostos de valor sobre os papéis sociais da mulher e da função da intérprete teatral. Veremos como esses valores dizem respeito à branquitude, ao favorecimento de classe, à hegemonia do saber-fazer de tradição européia, à cisgeneridade e ao especismo. Perguntamos: diante da revisão desses elementos, o que na profissão da atriz ainda necessita morrer, para um renascimento diverso?
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