Autorretrato de bastidores: vestígios, fronteiras e expansão corpórea
Resumo
Esta pesquisa encontra, nos bastidores teatrais, um espaço propício para discorrer sobre a expansão e potência corpórea da cena, manifestadas por aspectos que se desdobram dos palcos para fora deles. Para esta análise, parto de um arquivo autoral de retratos de bastidores, feitos por mim enquanto atriz-fotógrafa, que sugerem vestígios cênicos presentes nos bastidores. Tal reflexão é oriunda de um atravessamento teórico sugerido pela dialética da imagem benjaminiana, que dispara a análise acerca do entrelaçamento temporal (passado e presente) e espacial que se conjuga, neste caso, na relação bastidor e cena, direcionando-nos para uma exploração do corpo por sua qualidade expansiva. Como os bastidores são, também, a iminência do palco e da plateia, este trabalho repousa na ideia fronteiriça e toma o conceito de liminaridade de Ileana Dieguez (2011) como mote. Neste, a fronteira está associada ao enfrentamento permanente entre dois (ou mais) territórios, com contaminações incessantes que podem resultar em um espaço imbricado de características próprias. Logo, os bastidores teatrais são, aqui, o lugar do entre, cuja teatralidade é também peculiar porque advém do habitual cotidiano e atravessa um teatro de natureza igualmente híbrida e transgressora, contaminado pela performance, pela visualidade e pela corporeidade. As fotografias aqui trabalhadas são da cena contemporânea, cruzadas por tendências desta arte. Essa investigação pretende, portanto, considerar aspectos anacrônicos, líricos e virtuais dos bastidores, manifestados nas imagens fotográficas, para tecer conexões e gerar agenciamentos que culminem no pensamento da continuidade poética entre o bastidor e a cena teatral.
Referências
BARTHES, Roland. Roland Barthes por Roland Barthes. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
BENJAMIN, Walter. Passagens. Tradução de Willy Bolle. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado/UFMG, 2006, p. 505.
CABALLERO, lIeana Diégucz. Cenários liminares: teatralidades, performances e política. Tradução Luis Alberto Alonso e Angela Reis. Uberlândia: EDUFU, 2011.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição: o olho da história, I. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 2017.
DUBOIS, Philippe; FURTADO, Beatriz (org.). Pós-Fotografia, Pós-Cinema,: Novas configurações das imagens. 1. ed. São Paulo: Edições Sesc, 2019.
GIL, José. Movimento total - O corpo e a dança. Lisboa: Relógio D'água Editores, 2001, p.68.
GOLDIN, Nan. The Ballad of Sexual Dependency. Aperture, 2012.
ORLANDI, Luiz B. L. Corporeidades em minidesfile. In: Unimontes Científica. Montes Claros, v. 6, nº 1, 2004.
SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
TEIXEIRA, Francimara. Diga que você está de acordo: O material Fatzer de Brecht como modelo de ação. 2013. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.