|
MANIFESTO DO GRUPO VANGUARDA
Com a participação do jornalista e poeta Alberto Amêndola Heinzl, os artistas do Grupo Vanguarda redigem um manifesto contendo os objetivos, princípios e estratégias do grupo, que foi publicado no Jornal do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, em junho de 1958.
Analisando-se este documento podemos perceber que o grupo sugere uma renovação artística que seja progressiva (vemos essa intenção nas palavras “movimento”, “renovação” e “revificação constante”) e preza prioritariamente o fazer consciente, buscando profundidade em sua proposta. Há uma crítica àqueles que guardam “os segredos da arte” para si mesmos, a quem chamam de mestres, provavelmente os pintores acadêmicos que não revelam sua maneira de trabalhar. Os críticos de arte também recebem o julgamento do grupo pois eram acusados por não observarem o objeto de arte em si, mas se apoiarem em outros valores, como no “nome de quem assina” [a obra]. O grupo também deixa evidente a busca de uma atitude crítica fundamentada e elucidativa, além da vontade de livrar a obra de arte de sua “aura” (“um poema é um poema / uma tela é uma tela”).
Os componentes do Vanguarda demonstram um tom de protesto no decorrer de seu manifesto: contra uma atitude apática e contra aqueles que controlam o meio artístico. E, ao mesmo tempo, simpatizam com a imposição de uma nova estética e confirmam uma vontade de renovação urgente, inclusive quanto às instituições artísticas que aceitam apenas o que lhes é ditado por padrões pré-estabelecidos. Ademais, utilizam ironia e provocações, além de citações poéticas como a de Ezra Pound “artists are the antennas of the race”.
De acordo com José Armando Pereira da Silva, o manifesto combina contundência e polêmica:
“Vazado em uma linguagem analógica e fatura gráfica bem ao gosto do concretismo, vão se justapondo propostas e críticas, a que não faltam expressões cifradas (“a moda blackwood”), citações do momento “Pound”), muita ironia (“os escribas que pretendem uma andorinha modelada em bronze deva ter penas e cheiro de andorinha”) e um fecho de panfleto radical: “Fora com os burgomestres falantes e vazios / fora com os fritadores de bolinhos”. É bem provável que a maioria dos signatários tenha se espantado com o texto, mas naquele momento a provocação fazia parte do jogo” 1.
Ademais, o manifesto do grupo Vanguarda teve forte influência do Manifesto Ruptura, entregue pelos integrantes do grupo Ruptura na ocasião da abertura de sua primeira exposição em dezembro de 1952 no MAM-SP. Essa foi a maneira de oficializar a existência do grupo, assim como a publicação do manifesto Vanguarda no periódico campineiro também teve essa função.
Além disso, a diagramação do manifesto do grupo campineiro é semelhante àquela feita pelo Ruptura, com um projeto gráfico concreto (estruturado segundo a Gestalt visual) e palavras de ordem, protesto, muitas vezes em tom panfletário, e a idéia de que a arte do passado estava em crise e que eles eram a renovação. Porém, no caso dos concretos, isso é muito mais evidente:
“a arte do passado foi grande, quando foi inteligente. Contudo, a nossa inteligência não pode ser a de Leonardo. A História deu um salto qualitativo. Não há mais continuidade! Então nós distinguimos: os que criam formas novas de princípios velhos; os que criam formas novas de princípios novos.”2
Além do manifesto, a maioria das obras dos artistas do Vanguarda daquele período fazia grande referência ao concretismo, o que se deve também a um produtivo entrosamento com o grupo concreto, que mobilizava o cenário nacional na época. Devido a esse amistoso relacionamento, Décio Pignatari, Waldemar Cordeiro, Maurício Nogueira Lima e Hermelindo Fiaminghi procuravam dar apoio aos artistas de Campinas.
1 SILVA, José Armando Pereira da. Província e Vanguarda: apontamentos e memória de influências culturais, 1954-1964. Santo André: Fundo de Cultura do Município, 2000. p. 174.
2 Manifesto Ruptura
|
|