|
A obra, que também faz parte de uma série de gravuras – Mulheres x Protesto, é uma xilogravura em que o artista emprega poucas cores em sua impressão (preto, vermelho e amarelo). Apesar da figura parecer plana (chapada), com poucas evidências de volume, podemos fazer uma distinção de profundidades. O papel branco utilizado como suporte também funciona como fundo e contrasta com o preto usado em primeiro plano e nos contornos da mulher. Caro afirma que buscava este contraste: “Os Jornais tinham, em sua diagramação, não o uso de fotografia comum, mas sim fotografias do tipo positivo/negativo, o que eu achava fabuloso. Então decidi apresentar as minhas mulheres dessa forma, como se fossem um positivo/negativo”. E acrescenta: “Se eu tivesse que buscar essas mulheres em algum ponto de minha vida, eu certamente as encontraria em minha adolescência”, (1) quando o pergunto de onde vêm estas mulheres das xilogravuras e, posteriormente, aquelas da série de recentes pinturas Neonlúdio.
Os signos inscritos parecem colados sobre a figura da mulher ou destacados do plano negro, em especial quando deixam aparecer o suporte. Novamente o olhar do observador fixa enormemente nos grafismos. Porém, aqui não aparecem como uma crítica ao regime militar ou algo evidente em relação à situação social. Envolto pelo espírito da pesquisa, Caro busca efeitos simbólicos a partir da modificação de palavras. Surge uma novidade: um alfabeto próprio, decalcado de letras originais deformadas, com o qual centraliza ou detalha grande parte de sua produção entre os anos 1966 e 1971. O espectador torna-se, então, participante da obra, ao tentar decifrar o alfabeto do artista.
Bernardo Caro busca, no mesmo período desta obra, diferentes reações do público. Ao realizar O Altar, prêmio aquisição no VII Salão de Arte Contemporânea de Campinas (1971), Quem Foi? e Isolados, convida o observador a participar efetivamente das obras. Classificados como ambientais, o artista afirma que foram suas primeiras obras interativas, prenúncios para sua instalação Cavalinho de Pau, apresentada na mostra do Sesquicentenário da Independência ou Brasil Plástica – 72, pela qual quase foi preso por apresentar um forte protesto contra a situação política da época.
Análise publicada no livro: SUNEGA, Renata Alves (org), MACC: Vida e Obra – Fundo Histórico – Décadas 1960-1970. Campinas: Coordenadoria de Extensão Cultural, 2006.
(1) Em entrevista realizada pela autora com o artista em 24 de junho de 2004.
[voltar] [Renata Zago] |
|