COMPOSIÇÃO II
Série: Espacial
Técnica: Xilogravura (1964)
 
 
     
     
 

BERNARDO CARO tornou-se nos últimos tempos um dos artistas mais destacados do grupo campineiro de vanguarda. Suas realizações como gravador são bem conhecidas. Acaba de estriar na pop art objetista com grande sucesso. Tendo sido premiado no Salão de Pesquisas Operacionais Bernardo Caro é também um desenhista criador de tendência realista fantástica. Essa parte de sua obra não tem sido suficientemente exposta à crítica e ao público.

Bernardo Caro teve inicialmente uma formação acadêmica como muitos dos seus colegas campineiros que depois se libertaram dessa influência e se integraram na arte contemporânea. Começou, há uns quatro anos, a sua fase significativa, com a execução de notáveis gravuras.

Em 1964, fez uma série de xilogravuras com temática espacial cósmica tendendo para uma linha de realismo fantástico, mas ainda mostrando afinidade com o abstracionismo geométrico. Esses trabalhos já possuíam excelentes qualidades de composição espacial e de gravura, apesar de um tanto tímidos. Apresentavam uma característica de grande interesse: a combinação de elementos fantásticos e mágicos. Numa outra série de xilogravuras da mesma época, a tendência mágico-fantástica já se desprendera do geometrismo abstratizante, substituindo por formas de aparência orgânica anima. Nelas, o fantástico de Caro adquiriu um sentido mitológico e cosmogênico. Essas xilogravuras não utilizam uma expressão literária, como acontece freqüentemente nas obras plásticas de temática mitológica. Como nas da série geometrizante, a linguagem era puramente gráfica e plástica.

Na fase seguinte, Caro fez gravuras em branco e preto e outras coloridas inspiradas em inscrições e grafitos de velhos muros. Nesses belos trabalhos, o seu interesse se desloca dos temas cósmicos para os da vida quotidiana, do sublime para o humano, simplesmente humano. Ele se aproxima assim da corrente principal do novo realismo brasileiro, voltado para as vivências mais singelas e para os problemas sociais. Contudo mesmo nessa série, ainda transparece a atração de Caro pelo mágico e fantástico.

Nas gravuras mais recentes, a 1966, Bernardo Caro experimenta tamanhos maiores e amplia as suas pesquisas de colorido. Utiliza uma técnica pessoal de gravura em lacre que lhe permite obter grandes áreas de côr unida, com resultados excelentes. Essas gravuras grandes apresentam uma combinação da inscrição mural com estruturas misteriosas evocadoras de ídolos primitivos ou de rochas. A preocupação pela presença humana imediata se concretiza em muitas delas, pela impressão direta da mão, ora a mão do artista ora das mãos de suas filhas. Há uma afinidade sutil entre Caro e Niobe Xandó, que se evidencia nessa série de gravuras e na decoração de tubo do seu Kaleidoscópio.

O Kaleidoscópio do Salão de Pesquisas Operacionais das Folhas é uma obra de grande interesse. Revela um alargamento extraordinário da visão artística de Caro e as suas grandes possibilidades na direção do novo realismo. Nesse objeto surge novamente a combinação de novo realismo e de atração pelo mágico, tão marcada nas suas gravuras. O Kaleidoscópio, instrumento tradicional de magia visual, foi transformado por Caro num objeto popular de feira muito sugestivo.

Os desenhos coloridos de Bernardo Caro mostram, de maneira mais clara algumas das suas gravuras. Há neles mais calor e dramaticidade, assim como, aspectos diferentes da visão mágico-fantástica. São utilizados recursos cromáticos e texturiais mais complexos, que Caro evita deliberadamente em sua gravura

[Mario Schenberg] – Texto publicado no catálogo: Bernardo Caro – proposições 1964/1984, Ed. Unicamp, 1984. [voltar]

 
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