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“Raul Porto envereda diretamente pelo concretismo, exercitando-se na busca das contradições entre o ótico e o geométrico, termos estes que, no caso, obedecendo a um enquadramento sistemático, supera uma ordem mecânica, apresentando em seus melhores desenhos, em seus pontos modais, uma correlação imprevista e criativa. Seus desenhos são vistosos, mas não param no decorativo e a equivalência do fundo e figura nada mais é que a simultaneidade que torna possível, mediante sisteses inventivas, a estruturação de um complexo dialético de complexos mecânicos”
-Waldemar Cordeiro
Este trecho de Waldemar Cordeiro, pintor e integrante do grupo concreto paulista, fez parte da apresentação dos campineiros do Grupo Vanguarda no catálogo da mostra “Artistas de Campinas”. A exposição realizada em agosto de 1959 na Galeria de Arte das Folhas, em São Paulo, foi comentada por Alberto Amêndola Heinzl no “Jornal de Campinas” em 23 de agosto do mesmo ano, de onde foi extraída a citação acima.
Heinzl, que era ativo no meio literário da cidade, contou com diversas ilustrações de Raul em seus poemas. Em 1958 os dois se uniram para a publicação do Manifesto do Grupo Vanguarda, no Jornal do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA). O CCLA surgiu em 1901 e promoveu a troca de idéias sobre o cenário mundial da época, além da circulação da produção intelectual e artística campineira, movimentando a vida cultural da cidade. Os eventos que aconteceram na instituição ajudaram na divulgação do trabalho de artistas locais e de outras cidades do país. E foi lá que Heinzl e Raul puderam colocar em prática seus talentos.
A Revista do Centro era publicada desde sua fundação, e foi na edição de número 65, correspondente aos anos de 1958-59, que os dois jovens romperam com os ideais estéticos conservadores das antigas publicações, que seguiam o perfil tradicional da instituição. Raul Porto, que participou nesta edição com duas ilustrações, era o mais concretista dentre os campineiros do Grupo Vanguarda. Esta tendência concreta pode ser percebida tanto na capa da revista como neste desenho para os “Sete poemas” de Heinzl (ilustração acima). Raul, com a simplicidade das formas perspectivadas, criando efeitos de figura e fundo através do nanquim e do bico de pena, mostrou seu estilo inovador e moderno, assim como os próprios poemas de Heinzl. Essa mudança não teve aceitação por parte dos associados mais conservadores, e foi vista como uma atitude de ousadia. Depois desta edição, a revista só voltou a ser publicada em 1972. [voltar]
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