Adolescentes da Fundação Casa participam de mostra cultural na Unicamp


Autoria: Tote Nunes | Fotos: Antonio Scarpinetti | Edição de imagem: Alex Calixto | Imagem de capa: Foto de Nina Pires

Em uma iniciativa inédita, um grupo de aproximadamente 40 adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação em oito centros de atendimento da Fundação Casa, na região de Campinas, se apresentou, no dia 10/02, a partir das 14 horas, no auditório do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. As apresentações integram a Mostra Cultural Regional — evento promovido pela Divisão Regional Metropolitana Campinas (DRMC) —, uma das oito administrações regionais da Fundação Casa, em parceria com o Instituto de Artes.

A Mostra conta com produções artísticas dos adolescentes e terá apresentações de músicas autorais, teatro, dança, capoeira, exposição de trabalhos, entre outras atividades elaboradas ao longo do mês de janeiro, durante o recesso escolar do Ensino Formal.

O diretor do IA, o professor Paulo Ronqui, conta que a Fundação Casa tem uma parceria já consolidada com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) para o desenvolvimento de ações de saúde junto aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de internação ou internação provisória, mas esta é a primeira vez que o convênio se expande para a área cultural.

“Em meados do ano passado, o professor Fernando Coelho (pró-reitor de Cultura e Extensão) pediu para que os diretores de unidades pensassem em projetos que pudessem ser realizados junto à Fundação, e o IA logo aderiu, pois o projeto nos pareceu de extrema importância”, disse Ronqui.

O diretor do IA, o professor Paulo Ronqui: oportunidades e ressocialização
O diretor do IA, o professor Paulo Ronqui: oportunidades e ressocialização

Em seguida, foram abertas iniciativas nas cinco unidades do Instituto — os departamentos de Artes Cênicas, Artes Corporais, Artes Plásticas, Música e Multimeios, Mídia e Comunicação.

“Para nós, o projeto é muito relevante, pois será possível promover uma troca de experiências que pode ser importante tanto para os adolescentes, quanto para os professores e estudantes do IA”, acrescenta Ronqui.

Para o diretor, a experiência pode auxiliar no processo de ressocialização dos jovens e abrir novas possibilidades de futuro para eles. “Um projeto como esse é fundamental para que esses meninos possam enxergar uma possibilidade real. E, neste caso, uma possibilidade real de atuarem como artistas”, argumenta.

“Agora, eles vão se apresentar no auditório, pisar no palco, no coração do Instituto. Tenho certeza de que, para muitos, será um divisor de águas”, avalia o diretor.

A coordenadora de graduação em Artes Visuais do IA, professora Selma Machado Simão, conta que estudantes e professores do Instituto estiveram na Fundação Casa, entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, para uma série de cinco oficinas. “Mas os espetáculos a serem apresentados na Mostra foram desenvolvidos pelos próprios alunos da Fundação e seus orientadores”, salientou.

Selma Simão conta que a mostra contará com intervenções culturais feitas pelos meninos da Fundação e outras desenvolvidas por estudantes do IA — como um solo de dança, artes visuais e curadoria dos trabalhos, além de sessões de música.

A professora Selma Simão, coordenadora de graduação em Artes Visuais: divisor de águas
A professora Gina Aguilar, coordenadora do curso de Artes Cênicas: "Ganham os dois lados" 

A coordenadora do curso de Artes Cênicas, Gina Monge Aguilar — que visitou a Fundação antes mesmo do evento da pandemia —, disse que a experiência pode produzir ganhos para as duas instituições.

“Ganham os dois lados, mas acho que os estudantes do IA ganham mais, porque saem da bolha da universidade, onde vivem protegidos, para conhecerem outra realidade”, avalia a professora.

“Para nós, a extensão não é ajuda. É troca. Troca de experiência com as comunidades. Não vamos às comunidades apenas para ensinar, mas também para aprender”, afirma ela. 

Coordenadora da Graduação em Dança da Unicamp, a professora Larissa Turtelli organizou a oficina de dança, ministrada por dois alunos do IA, Eriki Hideki e Gabriel Multini. 

A convite de Larissa, o dançarino Henrique Hokamura apresentará um solo de 15 minutos de dança inspirado em afrofuturismo. Henrique é estudante da pós-graduação em artes da cena do Instituto de Artes na Unicamp.

 

As unidades

Integram a Mostra adolescentes das unidades Campinas e Maestro Carlos Gomes, de Campinas; Tapajós, Novo Tempo e Manacá da Serra, de Franco da Rocha; Mogi Mirim e Laranjeiras, de Mogi Mirim; e Morro Azul, de Limeira.

A supervisora técnica da divisão regional da Fundação, Andreza Tavares, vê potencial na iniciativa para mudar as histórias de vida dos adolescentes.

“A Mostra Cultural é um espaço para dar voz aos adolescentes e às suas produções artísticas. O objetivo desta parceria é possibilitar também que os jovens conheçam o cenário de uma universidade de excelência como a Unicamp, bem como as possibilidades de acesso ao ensino superior. É uma ação que pode mudar suas trajetórias de vida”, disse a supervisora.