Obra de professora do IA é finalista do prêmio da ABCA


Maria de Fátima Morethy Couto

O livro A Bienal de São Paulo e a América Latina: Trânsitos e Tensões (1950-1970), da Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Morethy Couto, docente do IA, é um dos finalistas do Prêmio Sergio Milliet 2023, organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). O anúncio ocorreu no dia 24 de abril e a obra concorrerá com Más notícias, de Sonia Gomes Pereira, e O mítico e o político na obra de Humberto Espíndola, escrito por Mariza Bertoli.

O livro de Morethy Couto, publicado pela Editora Unicamp, analisa a importância e a repercussão da introdução da Bienal de São Paulo no circuito artístico da América do Sul nas décadas de 1950 e 1960. A primeira edição do evento foi realizada em 1951 e, nos anos seguintes, o evento cresceu, chegando a receber quase mil artistas no final dos anos 1960.

A obra relata que as primeiras bienais realizadas no país propiciaram o fortalecimento de intercâmbios regionais nos anos 1960, bem como impulsionaram a criação de novas mostras de arte contemporânea em diferentes países vizinhos, ao fornecer um modelo bem-sucedido de aliança cultural-empresarial e de grande ganho simbólico.

O recorte temporal escolhido para a obra tem relação com o trabalho de pesquisa da docente. “Meus trabalhos de pesquisa e orientação abordam o período desde o modernismo brasileiro nos anos 1920 até os anos 1970. Os meus alunos e as pessoas que me procuram já sabem que o meu interesse como pesquisadora diz respeito às manifestações artísticas desse recorte. O livro é o resultado de um interesse maior pelo tema”, afirma.

Segundo Morethy Couto, o aprofundamento no tema das bienais surgiu quando o assunto foi objeto de estudo em sua Bolsa de Produtividade em Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por meio do projeto, ela pôde investigar os impactos que os eventos de arte causaram em diferentes cidades, não só do Brasil, mas de países da América do Sul.

“É um trabalho que depende de uma pesquisa longa. A bolsa me permitiu ir para o exterior para visitar arquivos e bibliotecas que possuem um acervo que não está disponível on-line. E você vai juntando as peças, fazendo algumas conexões e criando relações. Identifica situações similares em países vizinhos e percebe que a relação entre eles no campo da cultura, às vezes, é muito atravessada de polêmicas ou de disputas por um lugar proeminente no debate continental”, analisa.

Apesar do sucesso das primeiras bienais de arte no Brasil, o modelo de exposição mostrou esgotamento na década de 1970, chegando a exibir pouco mais de 300 obras em 1979 (alguns anos após a morte de seu fundador, Ciccillo Matarazzo), enquanto em 1961, por exemplo, o acervo reuniu quase 5 mil peças.

“Houve esse desgaste na década de 1970, mas as bienais voltaram com muita força nos anos 1990. Eu acho que nada substitui o encontro com a obra e com o trabalho. As exposições nunca perderam a sua importância. O contato com a obra de arte ainda é fundamental. Pessoalmente, a cor muda, você pode conferir o tamanho, verificar a textura e detalhes, e sentir o impacto que a obra pode produzir.”

Este é a segundo livro autoral de Morethy Couto – ela escreveu também Por Uma Vanguarda Nacional. A Crítica Brasileira em Busca de uma Identidade, publicado em 2004 e no qual analisa a crítica artística no período entre os anos 1940 e 1960, época marcada pela introdução da arte abstrata no Brasil dos anos e a consequente retomada da figuração.