Esta tese trata sobre groove e processos de interação musical durante a prática da improvisação, em performances do trio de Eliane Elias, na década de 1990. O objeto de investigação foi parte do concerto “Eliane Elias e convidados”, realizado durante o Heineken Concerts, em 1996, em São Paulo, no qual a pianista tocou ao lado dos músicos Marc Johnson (contrabaixo), Jack DeJohnette (bateria) e Manolo Badrena (percussão). Foram selecionadas 3 performances para a transcrição de trechos significativos (piano, contrabaixo e bateria) e realização de análise musical, sendo todas de composições de Antonio Carlos Jobim. Para o estudo do groove, o referencial teórico se baseou em Câmara e Denielsen (2018), Matthew Butterfield (2006) e Christopher Stoven (2006), buscando colocar em evidência a combinação de elementos estético-musicais do samba e do jazz, entendidos como práticas musicais afrodiaspóricas. Quanto à interação musical, as análises estão fundamentadas em Garrett Michalesen (2013), Ingrid Monson (1996) e Benjamim Givan (2016). Foi também elaborada uma narrativa biográfica sobre Eliane Elias, que abrangeu uma discussão sobre “bimusicalidade”, com referência a Mantle Hood (1961) e Stephen Cottrell (2007), jazz e interculturalidade, considerando Jason Stanyek (2004) e Christopher Washburn (2012), além de música e relações de gênero, com a contribuição de Susan McClary (1990), Erin Wehr (2016) e Susan Campos Fonseca (2013). As análises destacaram a importância dos eventos que ocorrem na subdivisão de fraseados como potentes marcadores estilísticos negociados pelos músicos na elaboração de grooves, e a interação musical como uma narrativa que possui dinâmicas previsíveis, com base na tradição dos estilos de jazz, e ao mesmo tempo, em aberto, onde convenções de tempo, harmonia, forma e papéis dos instrumentistas podem ser severamente tensionadas, embora, no caso do grupo em questão, nunca completamente desconfiguradas. O texto biográfico evidenciou tensionamentos num lugar extremamente competitivo da indústria fonográfica, ao abordar a ascensão de uma jazzista de origem brasileira, estratégias de manutenção da carreira ao longo de 40 anos, e uma liderança que lhe permite agregar múltiplas funções e estabelecer negociações em torno da imagem de sua persona artística.