A década de 1970, no Brasil, foi um momento-chave do retorno expressivo do samba na indústria e mercado de discos. Nesta época, o samba experimentou um movimento de valorização e retomada da tradição especialmente com a produção de uma nova geração de artistas, compositores e intérpretes que se tornaram referência na história deste gênero no país. Esse movimento foi acompanhado pela consolidação de uma indústria cultural num contexto de forte repressão, censura e um surpreendente crescimento econômico impulsionado pelo regime militar brasileiro. Diante da vasta produção, consumo e circulação que o samba atingiu no período, notamos mudanças na sonoridade e performance de bateristas neste gênero musical, registradas sobretudo em fonogramas. Diferentemente da década anterior, em que o instrumento se expressava como protagonista em grupos de samba jazz, praticando novas abordagens, a exemplo do samba moderno de prato nos anos 1960, a década de 1970 reposicionou a figura e o lugar do(a) baterista. Diante disso, esta pesquisa buscou estudar esse repertório com objetivo em perceber e identificar de que maneira ocorreram essas transformações estilísticas e sonoras na bateria. A partir da combinação entre os dados obtidos em transcrições musicais, considerando aspectos técnicos e interpretativos da bateria, com registros provenientes de entrevistas orais, da análise de documentos de época e sua relação direta com a indústria do disco, e a construção de um repositório que serviu como baliza para catalogação e organização do repertório fonográfico do samba no período, defendemos a hipótese do desenvolvimento de diferentes linhagens estilísticas de interpretação do samba na bateria na década de 1970. Com este estudo, foi possível compreender de que modo as mudanças interpretativas e sonoras do instrumento foram construídas dentro de um ecossistema discursivo que procurou valorizar a tradição do samba sem negligenciar os desenvolvimentos tecnológicos da indústria do disco.