Um artesão na Boca do Lixo: o cinema de excessos de Jean Garrett

Enviesado pelos estudos do excesso cinematográfico e dos gêneros do corpo, esse trabalho propõe uma análise de fissuras estéticas, narrativas e representativas em dois filmes da pornochanchada brasileira dirigidos por Jean Garrett: Excitação (1977) e A mulher que inventou o amor (1980). Português radicado no Brasil, Garrett foi um prolífico realizador do cinema de gênero produzido no âmbito do que convencionou-se chamar de Boca do Lixo paulista. Dado o distanciamento histórico, o estudo detido sobre esses filmes constata que, quando visualizados por um prisma de questões políticas e estéticas do presente, tais obras antecipam discussões acerca das normativas de gênero e sexualidade, lançando mão de práticas que fomentam espectatorialidades dissidentes, como a paródia e a desidentificação. Desse modo, em cotejo com o arcabouço crítico dos estudos culturais, o trabalho busca entender como certas economias da imagem cinematográfica, tais como o excesso e o artifício, mobilizam esferas espectatoriais que fomentam outras formas de recepção desse cinema.