As vídeo-cartas Nhemongueta Kunhã Mbaraete: confluências entre o filme-ensaio e a antropologia fílmica

Esta dissertação tem como ponto de partida as transformações nas formas de representação do sujeito e nos modos de subjetivação presentes nas mise en scènes do cinema documental a partir da década de 1970. Esses avanços servem como base para investigar as interseções entre a antropologia fílmica, conforme concebida por Claudine de France, a etnografia experimental discutida por Catherine Russell e as concepções estéticas do filme- ensaio, com ênfase em obras que combinam autorrepresentação e experimentação cinematográfica. A pesquisa tem como objeto a série de vídeo-cartas Nhemongueta Kunhã Mbaraete (2020), criada pelas cineastas indígenas Michele Kaiowá, Graciela Guarani e Patrícia Ferreira Pará Yxapy, e Sophia Pinheiro, não indígena. Produzida durante a pandemia de Covid- 19, a obra apresenta um formato ensaístico no qual autoetnografia e identidade se entrelaçam, revelando perspectivas culturais e subjetivas. Por meio dessas características, a série propõe uma reflexão sobre os encontros entre culturas e sobre os processos criativos que emergem dessas interações, contribuindo para novas formas de conceber o cinema documental contemporâneo.