Claves rítmicas como expressão sonora da cosmovisão negro-africano: O estudo de três terreiros de candomblé da Grande São Paulo (Inzo Tumbansi, Ilé Obá Asè Ogodo e Kwe Mina Axé Boço Da-ho).

Esta pesquisa tem como objetivo relacionar as claves tocadas em terreiros de candomblé de três nações distintas com o que estamos chamando de cosmovisão negro-africana, a qual não se restringe aos povos do continente africano, mas se espalha com a sua diáspora pelas Américas. A hipótese inicial é de que as claves são regidas por princípios cosmológicos compartilhados por povos africanos e afro-diaspóricos, ao mesmo tempo em que são mobilizadoras desses princípios: a partir delas (e com elas) é possível que eles se manifestem. Foram pesquisados três terreiros da Grande São Paulo, um de tradição ketu, um de tradição congo-angola e outro da tradição do tambor de mina jeje, justamente para verificar se tais grupos compartilhavam claves e princípios cosmológicos. Por meio de entrevistas com mães, pais, filhos e filhas de santo, gravações das festas, observação de campo e transcrição das claves, buscamos entender qual a importância das claves no ritual, como as comunidades enxergam esses toques e qual significado atribuem a eles. Procuramos, ainda, sistematizar essas informações, a fim de estabelecer uma relação entre a cosmovisão negro-africana e as claves. A oralidade foi uma marca bastante importante do primeiro capítulo, pois as histórias destes terreiros estão guardadas nas memórias de seus e suas participantes. Junto a eles e elas, conseguimos traçar uma narrativa histórica de seus terreiros e assim entender como essas casas se inserem na formação do candomblé na cidade de São Paulo. Os enredos das entidades, seus toques, cantigas e características, descritos no segundo capítulo, contribuíram para o entendimento das diferenças e similitudes entre voduns, òrìsàs e bakinsi. Nesse capítulo há a sistametização das claves e a descrição de sua importância no culto dos diferentes terreiros. No terceiro capítulo analisamos a cosmovisão negro-africana em duas vertentes: uma bantu, sistematizada por Bunseki Fukiao, e outra nagô (ketu e jeje), presente nos trabalhos de Juana Elbein e Muniz Sodré. Esta pesquisa apresenta contribuições nos campos da Etnomusicologia e da História Oral.