Representações do feminino na opereta La Duchessa del Bal Tabarin: um estudo transnacional
Anna Maria Greco Carvalho
Virgínia de Almeida Bessa
Sex, 29 de ago de 2025 às 14:00hs
Levando em consideração a importância que a opereta desempenhou na construção dos imaginários sociais nas grandes cidades do mundo ocidental nas primeiras décadas do século XX, esta dissertação investiga as representações do feminino na opereta A Duquesa do Bal Tabarin (1915), de Carlo Lombardo. O objetivo é compreender como essas representações foram musical e dramaticamente construídas, a partir da análise de libretos e partituras, e, com base em fontes da imprensa, investigar a circulação e a repercussão da peça em diferentes cidades: Milão, Madri, São Paulo. Defende-se que, ao introduzir uma protagonista soubrette, A Duquesa marca uma virada nos modelos tradicionais da opereta, antecipando elementos que se tornariam centrais na opereta italiana dos anos 1920. Assim, a obra trouxe transformações nas representações do feminino e nas práticas do teatro musicado transatlântico. Num primeiro momento, discute-se o contexto de produção da opereta e a atuação de Carlo Lombardo durante a Primeira Guerra Mundial, quando passou a copiar e adaptar materiais de outras nações. Nesse sentido, A Duquesa do Bal Tabarin configura-se como um pasticcio, no qual se fundem elementos da opereta vienense com traços cômicos e modernos da tradição francesa, além de influências da commedia dell’arte e da ópera buffa italiana. Em seguida, a análise dramatúrgica e musical revela como a narrativa é organizada em torno do desejo feminino, por meio de uma protagonista que, embora tenha ascendido à alta sociedade pelo casamento, não aceita renunciar à sua liberdade. A valsa de Frou Frou, ária de entrada da protagonista, sintetiza esse argumento, apresentando elementos que dialogam com a tradição musical da soubrette e, ao mesmo tempo, revelam um potencial comercial, que faria da valsa o leitmotiv da opereta. A caracterização da protagonista se contrapõe à soprano, a telefonista Edi, que representa a jovem inocente e virtuosa. A recepção crítica das interpretações dessas personagens— tanto na imprensa europeia quanto latino-americana — evidencia diferentes expectativas sociais em torno da performance feminina no teatro musicado do período. Por fim, demonstra-se como o termo soubrette, originalmente associado a papéis secundários e cômicos, passa a designar, a partir d’A Duquesa, a principal artista da companhia. O estudo mostra como esse processo esteve atrelado ao imaginário construído em torno das mulheres artistas, frequentemente representadas na imprensa com qualidades ambivalentes, associadas às personagens que interpretavam. Ao acompanhar a trajetória da opereta no espaço atlântico, foi possível observar também que a transformação na figura da soubrette não se resumiu apenas à Itália, mas sofreu influências do mundo latino-americano.