Esta pesquisa investiga a autorrepresentação na contemporaneidade híbrida, experienciada entre as realidades material e digital. Tendo em vista a orientação pela práxis, o tema é explorado em paralelo ao desenvolvimento de "EuEuzinhoEudnv". Essa obra/processo constitui o eixo articulador das análises aqui apresentadas ao tensionar as dinâmicas real/verdadeiro e ocultar/exibir. Mobilizando selfies, Inteligência Artificial Generativa (IAG) e a relação imagem-palavra, o trabalho aprofunda-se nas tenuidades e nas contradições que envolvem a autoexposição em rede. As transformações pelas quais a série passou ao longo dos seus mais de cinco anos de elaboração são delineadas de forma situada e embasada, atrelando-se aos estudos autobiográficos (Arfuch, 2010), ao campo da autoficção (Blanco, 2023) e pensando a extimidade (Sibilia, 2023). Tal abordagem evidencia as problematizações emergidas por “EuEuzinhoEudnv” e estabelece o alicerce teórico sobre o qual se erguem os capítulos subsequentes.
Inicialmente, debruço-me sobre a selfie, entendendo-a – para além de um elemento autorreferente – como um item autobiográfico e participante do hodierno “show do eu” (Sibilia, 2016). Em seguida, em diálogo com Maia (2024), o trabalho é colocado em relação às práticas fotográficas que antecedem o digital, as quais antecipam a fragmentação do sujeito e, assim, reforçam a potência das provocações propostas pela série. Posteriormente, ao articular essas discussões às contribuições de Rosângela Fachel de Medeiros (2009 e 2025), Ferreira, Constantino e Lima (2018), Goodnow (2016), Hess (2015) e Van Dijck (2008), percebo como tais dinâmicas se reconfiguram no contexto digital, demonstrando como o espaço on-line, apesar de intimamente relacionado à multiplicidade do "eu", representa um cerceamento à expressão subjetiva livre.
Na sequência, abordo outros eixos nevrálgicos do trabalho, a saber: o uso das plataformas de IAG e a operação de textos verbais. Tratando sobre o primeiro desses, referencio Beiguelman (2021) e Baio (2022) e, assim, denoto como as novas tecnologias inseridas na obra controlam a autoexposição. Com isso, aponto para o potencial disruptivo da escrita e da visualidade poética. Adenso essa discussão em diálogo com um novo olhar sobre o Surrealismo a partir de Knight e Eladhari (2025), O’Meara e Murphy (2023) e Kaerlein e Köhler (2018). Identifico, desse modo, atualizações do movimento moderno dentro da minha poética ao compreender a distorção como ferramenta crítica capaz de desvelar e desestabilizar os regimes de visibilidade que limitam um desdobramento multifário do “eu”.
A exposição desses tópicos, por fim, permite com que eu analise a construção de "EuEuzinhoEudnv(3)". Esse projeto prevê a criação de um objeto-instalação interativo, cuja fruição estende-se sobre as esferas material e digital. Encerro a dissertação evidenciando como essa nova materialização de "EuEuzinhoEudnv" responde poeticamente às questões discutidas ao longo do texto, pensando, assim, a autorrepresentação na contemporaneidade ao mobilizar a multiplicidade do "eu", as especificidades do digital, a distorção da imagem de si e a relação palavra-imagem como vias de provocação às dinâmicas real/verdadeiro e ocultar/exibir.