Este trabalho propõe, a partir da experiência do escuro enquanto território inventivo e espaço de reconhecimento de si, ampliar o campo teórico-prático que articula memória, imagem e corporeidade sob uma perspectiva transdisciplinar. Inscrita no território laboratorial das artes da cena, a pesquisa constrói-se como cartografia da própria vivência, delineando caminhos para a expansão de recursos estéticos por meio de uma narrativa em espiral, na qual o percurso torna-se fundamento epistemológico. A experiência cartográfica que sustenta a investigação se nutre de percursos atravessados por diferentes contextos das artes da cena, especialmente aqueles inscritos em ambientes laboratoriais nos quais criação e pedagogia se imbricam, como no Lume Teatro e nas práticas desenvolvidas com Luciane Ramos na UNICAMP. Nesse entrecruzamento, fronteiras antes rígidas se desestabilizam, permitindo que categorias tradicionalmente apartadas se borram e se contaminem, formando um campo híbrido no qual corpo, mobilidade, imagem, memória e pensamento passam a se constituir de maneira relacional, coproduzindo modos outros de percepção, elaboração e invenção do sensível. A análise empreendida também delineia caminhos para ampliação de recursos estéticos que fundamentam a criação artístico-pedagógica intitulada Habitar o escuro: explorando imagens e memórias corpóreas, a qual se ancora em uma postura crítica e decolonial, tensionando modos de operar e de estar em processos de criação e ensino. Busca-se, assim, reconhecer e ativar zonas de ausência, aqui conceituadas como espaços lagunares, como horizonte para constituído de outras formas de elaboração sensível e cognitiva