Encontro Geopolíticas Institucionais: Redes Artísticas e Intelectuais no Pós-Guerra


Nos dias 7 e 8 de agosto, o Instituto de Artes sediará o encontro Geopolíticas institucionais: redes artísticas e intelectuais no pós-guerra. O evento apresentará e debaterá resultados parciais do Projeto Temático desenvolvido com apoio da Fapesp, que investiga a circulação de exposições internacionais de artes visuais entre 1945 e 1978, e suas implicações estéticas, políticas e diplomáticas.

Com mesas-redondas e debates que envolvem temas como diplomacia cultural, circulação de artistas e exposições, e os efeitos geopolíticos da arte no período da Guerra Fria, o encontro é uma oportunidade para refletir sobre os caminhos e disputas simbólicas no campo das artes visuais. O evento é gratuito e aberto ao público, com participação de pesquisadores vinculados a instituições como a USP, Unicamp, UFRJ, UnB, University of Texas at Austin e Brandeis University.

Serviço
Evento: Geopolíticas institucionais: redes artísticas e intelectuais no pós-guerra
Local: Instituto de Artes da Unicamp
Data: 7 e 8 de agosto de 2025
Informações: geopoliticasinstitucionais@gmail.com

7 de agosto
14h00 –Mesa de abertura com as coordenadoras do Projeto Temático (Maria de Fátima Morethy Couto, Dária Jaremtchuk e Michiko Okano) e um representante do Instituto de Artes. Apresentação do Projeto Temático por Dária Jaremtchuk.


14h30-16h00 – Mesa-redonda 1:

  • Adele Nelson (University of Texas at Austin) - Diplomacia por meio do papel
  • Símele Soares Rodrigues (Université Jean-Moulin Lyon 3) - A diplomacia das artes plásticas do Itamaraty numa perspectiva global: o caso das Américas
  • Renata Gomes Cardoso (UFES) – Das Bienais aos museus de arte moderna: exposições individuais de artistas sul-americanas no Brasil

Debatedora: Vera Beatriz Siqueira (UERJ)

16h30-18h00 – Mesa-redonda 2:

  • Emerson Dionisio de Oliveira (UnB) - Uma expressão de fé: ex-votos no mercado da arte genuína
  • Patricia Corrêa (UFRJ) - O Peru na VI Bienal de São Paulo: presenças e ausências
  • Fabiana Serviddio (Universidad Nacional de Tres de Febrero/CONICET) - Giros y flujos de lo latinoamericano.  La exposición América latina: geometría sensible

Debatedor: Gabriel Zacarias (IFCH)

8 de agosto

10h-12h – Mesa-redonda 3:

  • Moema de Bacelar Alves (MAM Rio) - “Nova arte da Argentina”: exposição de artistas argentinos no MAM Rio (1965)
  • Renata Zago (UFJF) - Representação da Iugoslávia na X Bienal de São Paulo e sua circulação no MAM Rio (1969-1970)
  • Camila Maroja (Brandeis University) - Moldando o México: A Representação Mexicana na Bienal Latino-Americana de 1978
  • Michiko Okano (Unifesp) - A Fundação Japão e a Exposição Tsutsumu-ten (A arte da embalagem tradicional japonesa)

Debatedora: Iara Lis Schiavinatto (IA)

Resumo das Comunicações

Adele Nelson (University of Texas at Austin) - Diplomacia por meio do papel (Paper Diplomacy)

Esta palestra evidencia a centralidade das exposições itinerantes de gravura e dos portfólios de gravura na diplomacia cultural do Brasil durante a Guerra Fria, e considera como a presença marcante de mulheres e artistas populares nesses circuitos amplificou, minou e acomodou discursos políticos de entidades estatais e privadas. Focarei em um conjunto de exposições de gravura enviadas à Suíça na década de 1950, entendendo-as no contexto da circulação de exposições de gravura da Europa e dos Estados Unidos para o Brasil.

Camila Maroja (Brandeis University) - Moldando o México: A Representação Mexicana na Bienal Latino-Americana de 1978

Esta apresentação examina a representação nacional do México na Bienal Latino-Americana de 1978, organizada pela Bienal de São Paulo. Por meio da análise de obras de arte selecionadas sob o tema da "morte", de uma entrevista contemporânea com Néstor García Canclini detalhando o processo organizacional da exposição, e de exposições mexicanas anteriores que viajaram para o Brasil, este estudo explora como a arte mexicana foi posicionada para além do Muralismo, mantendo conexões com as tradições folclóricas locais.

Emerson Dionisio de Oliveira (UnB) -  Uma expressão de fé: ex-votos no mercado da arte genuína

Em 1975, o Museu de Arte de São Paulo apresentava a exposição “Ex-votos Argentinos”, um trabalho de pesquisa conjunto entre Sergio Barbieri e Iris Gori. Não era a primeira vez que o museu paulista se abria para a mostra de ex-votos, mas a presença e a introdução de uma nova tradição de “milagres” conectavam uma das práticas populares mais antigas da cristandade popular brasileira a outros modos de construir, catalogar e mostrar tais objetos e práticas. Buscamos, desta forma, introduzir a exposição, apresentar quais peças foram selecionadas e fotografadas, além de indicar quais formas de circulação de ex-votos latino-americanos foram adotadas nas últimas décadas do século passado

Fabiana Serviddio (Universidad Nacional de Tres de Febrero/CONICET) - Giros y flujos de lo latinoamericano.  La exposición América latina: geometría sensible

A partir de uma forma complexa de conceber os giros semânticos do latino-americano na arte, proponho aprofundar o estudo de alguns casos específicos de exposições latino-americanas que buscaram estabelecer uma definição fechada e identitária por meio de sua vinculação ao legado pré-colombiano e à chamada "abstração sensível", no contexto da formação de um mercado internacional de arte e do agravamento do impacto da Guerra Fria na América Latina. Para isso, vou me deter, entre outras, na exposição América Latina: geometria sensível no MAM Rio.

Patricia Corrêa (UFRJ) - O Peru na VI Bienal de São Paulo: presenças e ausências

A representação peruana na VI Bienal de São Paulo, em 1961, foi planejada, inicialmente, com dois conjuntos expressivos de obras: uma mostra de peças pré-hispânicas intitulada Tesouros do Peru e uma seleção de pinturas e gravuras de artistas contemporâneos, “vivos”. O cancelamento da primeira, as tensões no encaminhamento da segunda e seus possíveis enlaces conceituais na gestação da Bienal serão abordados.

Michiko Okano (Unifesp) - A Fundação Japão e a Exposição Tsutsumu-ten ( A arte da embalagem tradicional japonesa)

A exposição Tsutsumu-ten - A arte da embalagem tradicional japonesa foi organizada a partir da coleção de Hideyuki Oka e patrocinada pela Fundação Japão, que circulou por 60 cidades ao redor do mundo, incluindo São Paulo em 1985. Representou um dos eventos mais significativos da Fundação Japão, instituição estabelecida em Tóquio em 1972, considerando que seus primeiros dez anos foram caracterizados como fase experimental. Esta mostra evidenciou o propósito governamental de apresentar internacionalmente uma expressão artística tipicamente japonesa, profundamente integrada ao cotidiano do povo japonês, revelando uma concepção diferenciada sobre a própria natureza da arte.

Moema de Bacelar Alves (MAM Rio) - “Nova arte da Argentina”: exposição de artistas argentinos no MAM Rio (1965)

Em outubro de 1965, o MAM Rio inaugurava a exposição Nova arte da Argentina. Essa era a quinta mostra coletiva de arte argentina desde 1953, ano em que se deu a primeira mostra de artistas argentinos no museu e, ao apresentar esse caso, pretende-se abordar como as relações artísticas, institucionais e diplomáticas se renovavam e fortaleciam a cada evento organizado em parceria pelos dois países.

Renata Zago (UFJF) - Representação da Iugoslávia na X Bienal de São Paulo e sua circulação no MAM Rio (1969-1970)

Entre as décadas de 1950 e 1970, o MAM Rio consolidou-se como espaço de recepção de exposições internacionais itinerantes, muitas derivadas da Bienal de São Paulo e organizadas sob estratégias de diplomacia cultural em meio à Guerra Fria. Este artigo analisa a mostra “Representação da Iugoslávia na X Bienal de São Paulo”, que circulou pelo MAM Rio em 1970, investigando suas obras, agentes e articulações diplomáticas. A pesquisa parte de fontes documentais e propõe compreender a participação iugoslava como expressão de uma política cultural de “terceira via”, refletindo sobre as exposições como arenas de disputa simbólica e circulação transnacional no campo da arte.

Renata Gomes Cardoso (UFES) – Das Bienais aos museus de arte moderna: exposições individuais de artistas sul-americanas no Brasil

No conjunto das exposições internacionais realizadas no MAM Rio entre 1948-1978 há uma sequência de mostras de mulheres artistas da América do Sul, de países como Argentina, Chile e Bolívia. O caso da Bolívia, com a artista Marina Nuñez del Prado, se repete como exposição individual no MAM São Paulo, em 1951 e 1957. A organização dessas exposições individuais tem uma relação direta com a circulação e recepção dessas artistas nas Bienais de São Paulo do período. Nesta apresentação discutiremos a organização e realização dessas mostras, no sentido de analisar a correlação entre geopolíticas institucionais e a circulação de mulheres artistas no período, considerando os processos de reconhecimento de obras e trajetórias em narrativas históricas, com a projeção internacional dada pela realização de tais exposições individuais no Brasil.

Símele Soares Rodrigues (Université Jean-Moulin Lyon 3) - A diplomacia das artes plásticas do Itamaraty numa perspectiva global: o caso das Américas

Esta comunicação tem o objetivo de analisar a ação do Itamaraty, como decisor e parceiro, no campo das artes plásticas entre 1951 e 1980. Após a criação dos museus de arte moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo e da Bienal de São Paulo, as autoridades do Itamaraty tomam ainda mais consciência da importância desse instrumento para a política exterior brasileira. De que maneira as autoridades do Itamaraty acionam as artes plásticas como instrumento de política externa? Pode-se identificar uma política de artes plásticas para o Brasil e o mundo? Qual é a importância das Américas nesse empreendimento?