Projeto de doutorado em Artes da Cena vence Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos


A tese de doutorado em Artes da Cena, Bora militar junto? A cena digital como campo de guerrilha, de Luciana Mizutani, foi uma das vencedoras da quarta edição do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos, promovido pela Unicamp em parceria com o Instituto Vladimir Herzog. O projeto, orientado pelo Prof. Dr. Renato Ferracini, analisou o uso das redes sociais como uma forma de resistência artística em um contexto de radicalização política. 

Segundo a pesquisadora, a ideia nasceu no período em que o ex-presidente Jair Bolsonaro havia acabado de ser eleito (2019) e o país enfrentava um momento de grande divisão política. Sua ideia, na época, era estudar os movimentos de radicalização artística como forma de protesto político contra regimes autoritários. “Mas veio a pandemia e tive de adaptar a pesquisa para uma forma de estudo da militância digital”, explica Luciana.

O formato escolhido para o desenvolvimento da tese foi a produção de vídeos e materiais gráficos com análises e comentários sobre os discursos da extrema direita. De acordo com Luciana, a falta de padrão das mensagens foi uma das características identificadas. “Eles trocam de discurso a todo momento. São radicais e estão sempre apontando os responsáveis por todos os males da existência, mas há lugares de ataque que se mantêm, como os direitos humanos e a democracia”, diz.

Outro ponto bastante usado pela extrema direita e que foi incorporado como um dos objetos da pesquisa foi o que ela chama de “craqueamento do sistema”. “Isso significa usar um sistema e uma estrutura que já existem e subvertê-los. Esse exercício da subversão foi algo que me interessou e que eu tentei replicar ao buscar uma forma de quebrar a barreira do algoritmo das redes sociais”, explica.

Por meio dessa estratégia, ela conseguiu com que algumas publicações ultrapassassem a marca das centenas de milhares de visualizações.

Com o fim da pesquisa, Luciana diz que deve manter os canais ativos nas redes sociais, mas afirma que não vai manter o ritmo de postagens que fez com que ela ganhasse popularidade na internet. Além da alta demanda para criar e abastecer os perfis com conteúdo, a radicalização política a levou a tomar diversos cuidados com a privacidade.

“Uma das ações adotadas pela extrema direita é o doxing (vazamento de informações pessoais de terceiros na internet). Por isso, passei a usar contas separadas para a pesquisa, parei de postar fotos com amigos e nunca publicava minha localização no momento dos posts. Mas a pesquisa é algo que precisava ser feito”, conta.