Jorge Luiz Borges, genial escritor argentino, em uma de suas falas diz “A obra de arte, é talvez a iminência de uma revelação…”
Ao apresentar estes trabalhos ao Gabinete de Estampas do IA/Unicamp espero que, publicamente, possa ser útil para reflexões a respeito do fazer.
Nestas prensas de madeira, nem seus projetos, procurei sempre seguir o fato de que aqui no Brasil a gravura começou com a tecnologia contemporânea. Na Europa com a evolução da impressão, elas aconteceram conforme a precisão, da prensa de madeira para a de ferro.
Trabalhando com madeira e gravura, pensei em cobrir este tempo, esta passagem abrupta, as construindo com os conceitos instituídos e integralizando a linha do tempo pelo trabalho.
Construí as duas, a horizontal foi produção própria e a vertical com alunos na Oficina Cultural Amâncio Mazzaropi.
Uma história que colaborou em mudar meus conceitos sobre o fazer, foi quando feita a prensa para gravura em metal, conversando com uma amiga disse-lhe que, por ser de madeira, ao girar o volante, ela produzia um som parecido ao de um antigo carro de boi, ao que ela me respondeu: “agora sei que som fazia no atelier do Rembrandt”.
Surpreendido na minha lógica inicial pela percepção auditiva de minha amiga com respeito a importância da sensação, admito que esta revelação anunciou um outro olhar sobre o fazer.
Sou de uma geração que aprendeu os antigos conhecimentos sobre o mérito da matéria e que são, ter os cuidados e atenções para valorizar a manufatura do trabalho.
Mario de Andrade esclarecia que todo artista tem que ser artesão. Estendo isso que no fazer somos a matéria que age, nosso corpo é matéria e ao cuidarmos é como se trabalhássemos através e sobre nós mesmos.
O verdadeiro artesanato não exige habilidade nem repetição, mas percepção da compatibilidade da matéria, como o corpo humano, cada órgão funciona com e para o outro órgão.
Pensando dessa maneira ao trabalhar, a ideia mostra-se ao observar os acontecimentos e movimentações da vida que ocorrem em meu entorno e assim vou preenchendo suas necessidades.
Marcio Périgo.
Setembro 2022.