Dramaturgias do resir: O direito de morar em tempos de pandemia – Lançamento do filme “COVID.19 EPÍSTOLA.40”

COVID.19 EPÍSTOLA.40

Leitura Dramática à partir da peça:

EPISTOLA.40: CARTA (DES)ARMADA AOS ATIRADORES

obra teatral de Rudinei Borges dos Santos

 

No dia 18 de fevereiro de 2021, às 17h, tivemos uma roda de conversa com o dramaturgo Rudinei Borges do Santos, escritor da peça “Epístola.40 – carta (des)armada aos atiradores” e o elenco e direção do filme COVID.19 EPÍSTOLA.40. A conversa foi mediada pela docente Larissa Neves.

O registro deste encontro está disponível no nosso canal no Youtube.  Lá você também pode conferir o filme COVID.19 EPÍSTOLA.40, em duas partes (parte 1 e parte 2). 

O filme surgiu de uma adaptação para o periodo pandemico da terceira leitura dramática prevista no projeto Fapesp Dramaturgia Brasileira: o popular, a sacralidade, o contemporâneo.

 

 

Encontramos essa peça quando buscávamos por uma dramaturgia contemporânea, brasileira, que fosse atravessada pela sacralidade: “Com abundantes referências emprestadas do universo religioso e místico popular – já a partir dos nomes de batismo em um núcleo familiar – e estrutura dramatúrgica paralela à da liturgia cristã, a peça do paraense Rudinei Borges acompanha os “passos” de Calvário desses migrantes desde sua chegada. O caso enfocado é o do despejo à força de centenas de moradores da Favela do Boqueirão, na zona sul da capital paulista, em 2011” (Álvaro Machado – crítico de teatro em https://rudineiborgesblog.wordpress.com/fortuna-critica/). Imediatamente nos encantamos com o texto, por cada personagem e pela escrita sofisticada do autor. Então nos propusemos a organizar uma leitura dramática para tomar mais contato com o texto e apresentá-lo ao Laboratório de Dramaturgia e Escritas Performativas da Unicamp (https://www.iar.unicamp.br/labdrama/).

No entanto, neste mesmo tempo começa a pandemia por COVID-19 no Brasil, então por conta do isolamento social não poderíamos realizar a leitura ao vivo e em convívio, como é do teatro. Entre deixar de fazer ou fazer de forma virtualmente mediada, optamos por fazê-la. Cada ator e atriz em sua casa, em seu estúdio que ao mesmo tempo era um lugar, mas era também a própria personagem em sombra e luz, em figurinos e objetos, em sons e traquitanas cenográficas, se fizeram e procedemos a experiência. Entre São Paulo, Campinas/SP, Uberlândia/MG e Castanhal/PA – Judas, Nazara, Macabéa, Misael e Auarã, tomaram voz e nos integraram a sina do infelizmente, atemporal, Boqueirão!

“Boca dentada.

Boca de Deus.

Boca do capiroto.

Boca pronta pra devorar as gentes” (Epístola.40)

No entanto não bastava a peça para dizer “só um tanto de agora” (Epistola.40). A pandemia aguça mais e mais a sina de tantos brasileiros que moram em situação precária e os despejos e reintegrações de posse se intensificam: “Essa gente de favela que saia daqui e devolva o que nunca foi dela: o direito de morar” (Epístola.40). Novas ocupações foram surgindo e ações violentas acometidas diuturnamente. Segundo a Campanha Despejo Zero, entre março e outubro de 2020, ao menos 6532 famílias foram despejadas de suas casas e outras 54.000 famílias se encontram ameaçadas de serem removidas a qualquer momento, em plena pandemia do coronavírus, no Brasil inteiro!
(https://www.facebook.com/observatorioderemocoes/)

Perplexos com essa realidade, incorporamos à edição da leitura dramática de Epistola.40, matérias jornalísticas que revelam a política contraditória do (des) governo brasileiro, em relação ao controle do vírus fatal, quando ao mesmo tempo determina “fique em casa”, exerce despejo, pondo no olho da rua milhares de famílias e mantendo sob pressão outras muitas, dentre as quais abundam os cidadãos brasileiros periféricos, pobres, negros e indígenas – um extermínio étnico racial.

Assim renomeamos nossa experiência dramática de COVID.19 EPÍSTOLA.40, deixando um registro documental dos tempos de hoje, onde a pergunta que não cala desde sempre, torna-se ainda mais enfática: QUEM TEM O DIREITO DE MORAR?

FICHA TÉCNICA:

DIREÇÃO E DRAMATURGIA: Grácia Navarro e Ysmaille Oliveira.

ATUAÇÃO, EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E EXECUÇÃO MUSICAL:
Alanis Borges, Daniel Costa, Grácia Navarro, Mar Oliveira, Raielle Mazzarelli, Sofia Fransolin, Ysmaille Oliveira.

REALIZAÇÃO: Grupo Pindorama e Lab. Drama.

PRODUÇÃO: Deane Rafaelle, Geovana Mangiavacchi e Sofia Fransolin.