Oficina “Personagem Polifônico para Radiodrama”, com Igor Nascimento

A oficina “Personagem Polifônico para Radiodrama” propõe aos participantes a produção em linguagem radiofônica. Neste tipo de composição não há um estímulo visual direto, o “quem fala” é construído na “cabeça” do espectador por meio de referentes visuais simples: o espaço tratado como sensação, o ato sobre o qual o discurso se constrói e o direcionamento ao outro (que modula e flexiona as estratégias de comunicação). Neste sentido, a oficina visará o desenvolvimento de pequenos “pilotos” de peças radiofônicas para experimentar a relação voz/ouvinte. O conteúdo objetiva possibilitar reflexões e estratégias de criação para o personagem no teatro, no cinema e na literatura.

Os encontros aconteceram às quintas, das 19h às 21h30, começando no dia 07 de outubro e se encerrando no dia 18 de novembro de 2021, através da plataforma GMeet. 

Mais informações sobre a oficina:

A polifonia é um conceito cunhado por Bakhtin, que consiste no fato de que o outro (para quem a fala é direcionada) é um agente decisivo na geração e na modulação do discurso. O personagem, nesta abordagem, é considerado uma persona, uma máscara pela qual alguém (ou algo) “fala através”: do latim, “persona” é personnare (“per-sonador”,

ao pé da letra). O “personagem polifônico” é justamente essa máscara que é atravessada por múltiplas vozes que se revelam à medida que este o discurso é direcionado para outros interlocutores.

No percurso da oficina, objetiva-se montar essa máscara, que é composta por dispositivos que tomamos emprestados da teoria e filosofia do cinema (um diálogo entre Bergson e Deleuze) e a montagem cinematográfica de Eisenstein. O personagem é composto, pois, mais pela sua dinâmica do que pelo seu caráter (o perfil psicologizante tradicional). Trabalharemos sobre seus conflitos com o espaço, com o tempo, com suas manifestações imagéticas e discursivas, com os temas que ele atrai e os fluxos que o atravessam (desejo, objetivo, pulsão, sensação etc.) entre outras qualidades que permitem experimentar suas possibilidades no jogo por meio de improvisos e exercícios individuais e em grupo.

A partir daí propõe-se compor a trama, que não é necessariamente o enredo, mas várias “linhas de ação” que se desenvolvem juntas e “esticam” o personagem, fazendo com que suas qualidades “saltem para fora”: a ação do tempo, do espaço, do ambiente, do seu arco dramático e os dos outros personagens, da ação física, do monólogo interior, dos meios de comunicação que o envolvem etc.

 Por fim, experimentamos o direcionamento do discurso, fazendo com que este personagem se “choque” contra outros interlocutores (outros personagens, outros “eus de si mesmo”, fantasmas, plateias, multidões, sombras, entidades, instituições etc.) experimentando, assim, sua voz e a modulação do seu discurso na relação com outro (com múltiplos outros), pondo em prática a polifonia.

 

Sobre o ministrante:

Dramaturgo, roteirista e diretor, autor da série de radiodramas Fôlego Curto – Dramas para Ouvir (Rumos Itaú 2018/2019). Possui quatro livros publicados via premiação em editais, entre eles destacam-se Caras-Pretas (Banco da Amazônia) e Fôlego Curto (Edital Fapema de Literatura). É doutor em Artes da Cena (Instituto de Artes da Unicamp), mestre em Cultura e Sociedade (UFMA), MBA em Cinema (LA Film – SP), graduado em Letras, com pesquisa voltada para escrita híbrida e processos criativos evolvendo Teatro, Audiovisual e Literatura. Entre as peças escritas, destacam-se As Três Fiandeiras (XAMA Teatro – Prêmio Nascente-USP), a tragédia Atenas: Mutucas Boi e Body (Em co-autoria Lauande Aires da Cia Santa Ignorância – Prêmio Myriam Muniz) e Nêgo Cosme em Movimento (Em co-autoria com Luís Pazzini do Grupo Cena Aberta, esta peça ficou em cartaz por quase 10 anos, participando de vários festivais).