Gente da Terra

Galeria de Artes Unicamp/IA

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GENTE DA TERRA

Período: de 09 a 31 de maio de 1996 – de 2a. a 6a. feira, das 9:00 às 17:00 hs.

 

 

“Álvaro de Bautista chegou ao Brasil aportando sua maravilhosa exposição “O Realismo Fantástico” e se apaixonou por esta terra e por esta gente. Adentrou-se pelos mares de morros e paisagens do Brasil e, claro, também pelas costas brasileiras, como bom navegante que é.

No olhar esta terra, a sua natureza e o seu povo, Álvaro de Bautista surge com uma exposição sem par, além do retrato, além do realismo, embora realista seja seu estilo ou técnica. Mas é muito mais do que essas expressões convencionais pois dificilmente um artista consegue juntar tais efeitos de luz, transparência e simultaneamente a alma do retratado que se traduz em poesia e espiritualidade.

Por trás das sombras de um chapéu, a pleno sol, ao pé do coqueiro tatuado, os olhos se abrem como uma janela para mostrar, em seu brilho, toda uma vida de sentimentos e sensações e um sorriso natural e humano que o artista soube conquistar para sua tela.

O marinheiro largado em sua quietude, pêlo no peito e olhar profundo e desconfiado, de quem sabe. Nada é plano insignificante neste quadro, pois até as madeiras as sentimos rangentes e o exterior, trás umajanela, no movimento do balanço tranqüilo de embarcação ancorada.

Ou, ainda, a mulher inclinada sobre a roupa que está lavando numa água transparente e em movimento, também, de um rio.

No umbral de uma porta, pau a pique, uma jovem sentada e olhando para a rua, se tiver rua – eu estou imaginando – a moça está de frente na tela e sua roupa é rica em detalhes , desenhos (flores e estrelas), com pregas dignas que em nada diminuem a dignidade das roupas nobres das telas que Álvaro pintara na Europa.

Álvaro de Bautista dá um banho em clássicos e modernos . Não se preocupa modas e estilos artísticos, reforça e valoriza o que vê e reproduz com perfeição da câmera fotográfica, mas captando das paisagens e pessoas valores internos e representativos, emocionais e essenciais, coisa que a câmera não o faz, nem poderia fazer, pois é aí que reside a arte, a sensibilidade e o talento que só o verdadeiro artista pode nos dar.

Eu desfrutaria passando em revista toda a delícia de suas personagens (seus modelos): garotos, crianças, adolescentes, jovens, velhos, vendedores, marinheiros, lavadeiras, mães dando de mamar à criança … a terra, esta terra eo povo, este povo.

Reproduzindo sem par. Com arte só dominada por pouquísimos pincéis, de nome privilegiados que com certeza integram os capítulos, muito especiais, da História da Arte.


Do ponto de vista crítico, sei que Álvaro de Bautista, se ele quiser, poderia dominar quaisquer das tendências da arte contemporânea e se não o faz é porque não quer. Quem domina a técnica da pintura, da cor, da perspectiva, como ele domina, é capaz de pintar em qualquer estilo, porém a inversa não é verdadeira . São poucos os abstratos que conseguem imitar este realismo. “Esse é Álvaro de Bautista, o artista, o mestre, sem rodeios, sem falsos e fáceis elogios: Sua pintura está aí para defasa-lo no tempo e no espaço, eternizando-o.

Mario García-Guillén
(Escritor e membro da Associação Paulista de Críticos de Arte, Associação Brasileira de Crílticos de Arte e Associação Internacional da Crítica) .

 


 

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