Imagens da Poesia erótica de Hilda Hilst

As trinta imagens que fazem parte da exposição de Paula Cabral na Galeria de Artes da Unicamp são resultado da poética construída como parte da pesquisa realizada em sua dissertação de mestrado, desenvolvida na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação do professor Joaquim Brasil Fontes.

São construções poético-fotográficas, desenvolvidas a partir da leitura, fragmentação e interpretação do livro Do Desejo, da escritora e poeta Hilda Hilst. Uma produção autoral que dialoga diretamente com fragmentos da poesia hilstiana e com as ideias e construções sobre o desejo apresentadas pela escritora em seu livro; pretende-se fundamentalmente, uma fusão entre o tema do desejo e outros motivos constantes da obra de Hilda Hilst e os de uma leitora que se envolve e interpreta a sua poética a partir do suporte fotográfico.

O trabalho pode ser visualizado no link abaixo:
http://www.flickr.com/photos/pauladcabral/sets/72157632734943272/show/

 

 

 

Apresentação de Joaquim Brasil Fontes

POÉTICA DA IMAGEM

1 Safo, num des seus fragmentos, chama EROS – o amor, o desejo – de glukúpikros, isto é, “doceamargo”. No mesmo verso, EROS é também qualificado de “amákhanos”, um adjetivo grego que significa “invencível”, mas, com mais propriedade, “aquele contra o qual nada podem as máquinas, e, de um modo geral, a técnica construtora de armas”. Sente-se palpitar nesse termo a impotência do homo faber para domar Eros, o Desejo, o Amor, uma criatura que não cai nas ciladas ou armadilhas humanas. “Criatura”: é assim que, neste fragmento, costuma ser traduzido o termo órpeton, que designa, porém, na tradição da língua grega, seres rastejantes, assustadores – répteis ou demônios míticos. O poeta entrega-se, então, e canta: Doceamargo Desejo, invencível monstro que rasteja!

2 Num estudo sobre Hoffmann, Freud, de férias na Itália, conta que percorria, numa tarde muito quente de verão, as ruas vazias e desconhecidas de uma cidadezinha. Rodava por ali, e voltava a cair, sempre, na mesma estreita rua. Nas janelas das casas assomavam sempre mulheres muito maquiadas, como num sonho. Freud fugia do lugar, um pouco incomodado, rodava em torno, e voltava a cair na mesma rua estreita. Sentiu, então, um sentimento que só podia qualificar de estranhamente inquietante. Mas somente um pouco mais tarde descobriu ser aquele o quarteirão das prostitutas da cidadezinha italiana. O Desejo é essa potência que, extraviando, guia.

3 Neste espaço, encontramos imagens fotográficas produzidas por PAULA CABRAL e imagens verbais de HILDA HILST. As fotos não ilustram os poemas, propositalmente reduzidos a fragmentos: completam-nos e, às vezes, colidem com eles, transformam-nos, porque derivam daquilo que punge o olhar: o ponto cego, dolorido e doce, do desejo. Que o espectador aprenda a perder-se no labirinto desta pequena mitologia da água, do ar, do fogo e da terra.



Sobre a artista

Artista, fotógrafa e educadora, Paula Cabral desenvolve pesquisas e produções artísticas relacionadas às temáticas do corpo, do humano e suas relações, e da História da Arte.
Pedagoga, especialista em Artes Visuais, Intermeios e Educação; e atualmente, mestranda da Universidade Estadual de Campinas, ministra também oficinas e aulas em diversos níveis e segmentos relacionadas à educação, literatura, fotografia e às artes em geral.

Contato Paula Cabral: (19) 92160017

email: paulacdcabral@gmail.com

Portfólio eletrônico: http://www.flickr.com/photos/pauladcabral/sets/