A Trajetória de uma Memória

Luise Weiss

A Trajetória de uma Memória 

Estes trabalhos iniciam uma busca visual, realizada como pesquisa de material fotográfico familiar, que é a matéria-prima de minha tese acadêmica.
Percebi, de pronto , dois movimentos, constantes e contínuos: inicialmente a visada genealógica, explicitada no levantamento do material visual: entabulei um diálogo que por ser desejado, evidenciou-se impossível. Talvez, experiência de um sonho, pregnância de uma fantasia. O momento seguinte é o da convivência com a dor da nostalgia; nisso, como um labirinto na penumbra, gradativamente imagens se revelam, por instantes. Mas, diferentemente do que eu tinha planejado, não surgiu na primeira etapa o núcleo do trabalho; antes, delineavam-se múltiplas trajetórias, meandros de memória. Declaravam-se, simultaneamente, recortes, montagens, anotações em álbuns, livros-objetos. pequenos objetos (monóculos) . A pesquisa visual transcorreu como busca de um elo entre o passado (imagens e relatos de memória) e presente (do qual participo).
Mas onde escorre o tempo que não consigo segurar ? 

 

Retratos familiares : “In Memorian”

Certo dia tentei lembrar com detalhes ( e também representar ) o rosto do meu avô paterno.
A imagem fluía, a tinta escorria sobre o papel: Notei as dificuldades da memória, as facilidades do esquecimento. Esquecê-lo-ei, algum dia, completamente ? Um levantamento genealógico, com nomes, datas, lugares não preenchia a lacuna aberta: Quem era ele ? Como eram os outros ? Como serei eu ? Daí a busca mais que arqueológica de familiares: fotografias, álbuns, cartões postais, documentos, desenhos, livros, viagens a Viena, a Munique, roupas. Uma a uma, as fotografias posaram de algum modo como modelos, intensificados no diálogo com a pintura. Contemplando as fotografias, eu contemplava e ainda contemplo a traição do tempo: eles , tão próximos, entretanto, ilusão … A lembrança faz certamente, viver ausências. Os painéis, cobertos de retalhos: associei-os à pele … pele-tecido que me faz visualizar rostos emanados da superfície negra. Nas camadas de tinta sobrepostas, as cores se mesclam ao negro inicial, como também ao branco devindo.
A luz, aos poucos, arrancada do fundo escuro, pode voltar à penumbra. Desafiando as dobras e remendos dos tecidos, uma após outra, as fantasmagorias iam surgindo: imagens da memória mesclada a sonhos cenográficos, a lembranças fotográficas, imagens ora definidas, ora vagantes, aparecendo, desaparecendo, meandros do tempo, interligando paixão, reflexão e pintura, percebo que, no momento exato do encontro das tintas na superfície do painel, junto com o gesto, tudo se funde: tempos de alegria do reencontro imaginário e da dor da separação real. 
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Fotos da abertura da exposição de Luise Weiss, com apresentação do duo de violinos "Re-Nascimento" formado por Fabio e Alessandra Nascimento.

 
 
 

 Fotos : Everaldo Luis Silva
Câmera : Sony Digital Mavica

 

Leia matérias sobre a exposição:

Correio Popular e Semana da Unicamp