Observações Fortuitas Sobre o Japão

fotos de Fernando de Tacca

Fernando de Tacca revela-nos seus passos e espantos no Japão. São fotos, recortes e registros nos quais, dinâmicos, fixam imagens e emoções. Àqueles que esperam o exótico fácil, mostra o cotidiano; àqueles que buscam o espetáculo, comove com a delicadeza; aos que solicitam o fácil, impressiona com a profundidade.

A textura de suas imagens é comovente pela sensibilidade sutil e firme em que é tecida. Se a primeira pele é policromática, as lentes de Tacca buscam além; a derme profunda é mais dura e forte na tessitura desvelada e penetrante do foto-voyeur.

Se às vezes deixa-se seduzir por ícones e figuras ancestrais, também nos deixa seduzidos. Porém, foge dos estereótipos – os símbolos arcaicos nos são informados por crianças de quimono e seus olhares imaginários. Mas também, por velhos em closes e suas rugas e sulcos e arcos. São retratos belíssimos que estão na cultura nipônica, evidenciando sua história, contudo, transcende-a no onírico ontológico do olhar. De outro lado, o centrífugo do gesto é tensionado com o centrípeto dos símbolos. Assim, os templos e seus objetos, os cemitérios e suas imagens, os quimonos e suas cores tornam-se os verbos pelos quais a cultura japonesa articula sua linguagem-exemplar. E o imaginário da menina de quimono é circunscrito no cenário do templo onde a família encantada registra a foto “high tech” e Tacca informa a metalinguagem.

Às vezes é “símbolo puro” e um samurai advindo da nossa imaginação e fantasia se dá presente com seus ornamentos e fantasmas. E o cemitério e os campos de arroz com pássaros alados nos sussurram luzes mágicas ao pôr-do-sol com seu filtro amarelo. Noutros instantes, são aquelas velhinhas tão arcadas que descrevem em seus pequenos corpos o peso da história e do mito e atualizam o milagre do arroz – são tão pequenas, frágil-fortes – intensas como o grão que plantam.

Em certas imagens busca a plasticidade iconográfica e sua opção desloca-se para bandeirolas e balões com inscritos “kanji”, de traços tão sofisticados, belos e enigmáticos. Em outros, recorta pessoas em seus passeios cotidianos com passos distraídos pelos becos de Osaka. São personagens solitárias e suas sombras, desaparecendo fugidias, insinuam-nos o contraste na estação do “shinkansen”.

Mulheres-mercadorias anunciadas em máquinas automáticas e cabines telefônicas de contato íntimo. Descreve a modernidade de prédios espelhados ao lado de painéis-gravuras do “ukyo-e”. E o novo é condensado nas imagens de elevadores panorâmicos, convexos e espelhados – sutil visão. Fernando de Tacca apreendeu e nos ensina a nuança das paisagens, pessoas, ações, símbolos nas fotos-Japão que nos inspira. Japão no olhar e cinestesia penetrante revelados.

Ivan Santo Barbosa

leia artigo e veja a exposição completa no número 13 da Revista eletrônica Studium

Período da exposição: 03 de junho a 03 de julho de 1998

Local : saguão da Biblioteca Central da Unicamp