Resíduos: água e tempo | Existe um espaço na alma onde a respiração não cessa, porém…
Sala 1: “Resíduos: água e tempo”
Artista: Ivanir Cozeniosque
A marca do tempo é o fio condutor deste ensaio fotográfico, onde a superfície reflexiva da água de um lago atua como matriz de impressão recolhendo o mundo ao seu redor e o devolvendo em forma de luz. Imagens que lembram estranhamente pequenos esboços ou histórias contadas visualmente num mimetismo com os desenhos rupestres, mas agora um repertório de pequenos elementos: bolhas, cascas, folhas, gravetos, insetos, musgos, penas, pedriscos, raízes… Uma superfície em suspensão que fala do lago, desse tempo impresso do que existe e existiu em busca de uma apropriação com a natureza.
A borda impregnada de resíduos em decomposição passa a ser o arquivo da memória do lugar: aderências/descontinuidades e presenças/ausências mapeiam vestígios, rastros, fragmentos e emaranhados. Essa série mostra uma produção experimental a partir de um vocabulário não de palavras mas de uma aproximação com a linguagem do desenho e da imersão do olhar na poética das águas.
Ficha técnica das fotografias:
Câmera fotográfica CANON EOS 7D; lente: CANON ZOOM EF-S 18-200mm 1:3.5-5.6 IS
cartão de memória: Sandisk Extreme, Compact Flash 60 MB/s, 16 GB.
Impressão em jato de tinta com pigmento mineral no papel fotográfico 100% algodão, Hannemüller, Photo Rag 180 grs. impressora Epson Stylus 9900.
Imagens da exposição: Série s/titulo, fotografia digital; pigmento mineral sobre papel algodão; 80 x 110 cm;edição I/X, 2015
Sala 2: “Existe um espaço na alma onde a respiração não cessa, porém …”
Del Pilar Sallum e as metáforas do Corpo
[…] Existe um espaço na alma onde a respiração não cessa, porém o coração sente e resmunga trata de uma cartografia sensorial realizada a partir da composição gráfica, na qual a grafia das palavras gera uma incerteza, uma instabilidade e um movimento eternizado pela generalização que lhes confere a artista, mas que na estabilidade do Eu são temporais e identificáveis. Nesse sentido, as palavras são metáteses das sentenças coletivas.[…]
No vídeo a maleabilidade dos deslocamentos produzidos pela técnica aguça a rigidez do registro. Ângulos desbalizados e registrados em movimentos de plasticidade gráfica salientam o domínio estético das composições da artista. A projeção do corpo numa superfície espetacular – para que o espectador verifique que a imagem não é a artista, é o corpo da artista – induz a diluição das fronteiras do espaço e do corpo.[…]
Transita-se assim da inércia da instalação ao movimento gerado no vídeo: imagens em palavras, palavras como imagens. É o corpo em imagens, o corpo numa imobilidade transportada espacialmente através do vídeo. Configuram-se estruturas no território espacial, projetadas sensorialmente num espaço atemporal e sem limites espaciais, assimiladas também desde um plano comum.
Essas relações geram mapas metagráficos inacabados, onde as próprias formas particularizam a linguagem visual. Com isso a artista exprime o mistério da forma, que mais se enfatiza e impregna de significados à medida que o representado se desincorpora de sua função primária.[…]
Andrés Hernández
Curador
São Paulo, julho de 2015
Portuguese