Reversibilidade

Numa diversidade de meios relacionados ao fazer e à experiência em Artes Visuais (desenho, objeto, fotografia, infografia, instalação, vídeo e mídias digitais) reunimos nesta exposição artistas, cujo traço peculiar é o de serem também artistas-pesquisadores vinculados a Programas de Pós-Graduação em Artes/ Artes Visuais e a Grupos de Pesquisa registrados no CNPq, trabalhando todos com forte sentido de contemporaneidade em suas investigações.

A proposição desta exposição conecta-se ao “Projeto Entrecampus”, articulado por uma iniciativa dos Grupos de Pesquisa: Estudos Visuais da UNICAMP, Estudos e Práticas Artísticas Contemporâneas da UFF e do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação e Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes da UFES. Este projeto propõe dar maior visibilidade para a produção visual produzida por seus pesquisadores, como parte integrante de um processo de produção artística e intelectual que relaciona, de modo interdisciplinar, a teoria e a prática.

Promover uma interação institucional que considere as pesquisas em seus processos de experimentação, como uma troca dialógica tramada pela ação da materialidade do objeto artístico como tal e na sua presença, é também uma ação de política cultural, de ampliação de dispositivos buscando um sentido maior de pertencimento social. Neste sentido, considerar o espaço expositivo com curadorias efetivadas pelo grupo de pesquisa anfitrião tem por consequência refletir sobre a ampliação dos espaços de uso tradicional para este tipo de relacionamento no ambiente da pesquisa em artes, propondo ir além das conferências, ao considerar a exposição, ela mesma, como um lugar sui generis, uma contribuição para a construção da cultura em seus processos dinâmicos e imateriais.

Para a exposição rEverSibilidAde na Galeria de Arte da Unicamp temos o professor Francisco Laranjo (convidado especial) da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (PT) e os professores Luciano Vinhosa e Luiz Sérgio de Oliveira (UFF), José Cirillo e Marcos Martins (UFFES), Mauricius Farina e Marta Strambi (UNICAMP) e os orientandos Raphael Couto e Rosane Cantanhêde (UFF), Sandro Novaes (UFES), Cláudio Matsuno, Cyra Maria e Vitor Carvalho (UNICAMP).

A noção de reversibilidade em ciência implica numa ação de reverter determinada circunstância ao seu estágio inicial. Nesta exposição este conceito está vinculado às requisições de contemporaneidade, cujos limites, já bem esgarçados, não aceitam isotopias, reconhecidas por escolhas alinhadas aos sentidos de uma epistemologia calcada no devir histórico, mas na imanência dos processos criativos como agentes de transformação da própria história.

O estresse das imagens e a multiplicidade das formas impregna a temporalidade como um mal-estar anunciado e, ao mesmo tempo, conduz a uma distopia, que merece ser provocada.
Ao reconhecer tantas tradições que foram rompidas e tantos textos que foram esquecidos, a reunião de trabalhospoéticos moldados por experiências construídas, pelo intuído e pelo conceituado, vai dar vazão ao indistinto, ao não-dito antes, aliando comportamentos a indícios, conceitos às práticas de visualidade, ampliando o cenário das narrativas, promovendo alteração: uma reversibilidade pela encarnação poética.

Considerando como eixo a multiplicidade de formas e procedimentos nesta exposição, mais que um estilema curatorial, persegue-se um princípio de troca, que é distinto daquele apregoado pela forma rígida. Essa é a natureza de uma exposição que propõe-se como reversibilidade, uma ação em contínua distensão
entre o princípio e o fim, que ao dar espaço ao outro é ao mesmo tempo uma possibilidade de encontro consigo mesmo.

Mauricius Farin

Legendas:

Luciano Vinhosa, Magritte, 60 x 40 cm, algodão, aquarela e acrílico, 10,7 x 33 x 13,7 cm.
Luciano Vinhosa, Ponto cego (proposição), Autorretratos, fotografia, 2008, 41 x 32 cm . Colaboradores: Marcelo Souto,

Marcos Martins, Anti-arquiteturas, Mobiliário 1, 2010/2012, fotografia, acrílico, MDF, luz fluorescente e fios, 60 x 40 cm.
Marcos Martins, Anti-arquiteturas, Mobiliário 2, 2010/2012, fotografia, acrílico, MDF, luz fluorescente e fios, 60 x 40 cm.

Mauricius Farina, Toninhas, Série Paisagem retocada, 2012, fotografia, 60 x 80 cm.
Mauricius Farina, Londres, Série Paisagem retocada, 2012, fotografia, 60 x 80 cm.

Rosane Cantanhêde, Circuitos Locais, 2012, gravura e desenho em placas de fenolite e fios de cobre, dimensão variável (detalhe).

Claudio Matsuno, Um Outro Lugar de Onde Estou, Instalação, 2012, dimensão variável.

Sandro Novaes, Caminhos do invisível, 2012, fita adesiva sobre MDF, 40 x 50 cm.

Luiz Sérgio Oliveira, Não (série “Dez casos de amor e um caso sério”), 2010, fotografia, 25 x 25 cm.
Luiz Sérgio Oliveira, Pode ser (série “Dez casos de amor e um caso sério”), 2012, fotografia, 25 x 25 cm.

Marta Strambi, Memory in Connection- AuBrain nm, 2012, animação digital.
Marta Strambi, Connection-Au Brain nm, 2012, infografia.

Francisco Laranjo, Desenho I, 2011, nanquim sobre papel, 70 x 100 cm.
Francisco Laranjo, Desenho II, 2011, nanquim sobre papel, 70 x 100 cm.

José Cirillo, série Paisagens Olfativas, 2002/012, acrílico, feno e alfafa prensada, 10 X 27 x 20 cm.
José Cirillo, série Paisagens Olfativas, 2002-2012, acrílico, feno e alfafa prensada, 15 X 27 x 20 cm.

Raphael Couto, Patchwork, 2012, triptico, fotografia, 40 x 30 cm.

Camilo Oliveira, Luís Fernando Müller.

Cyra Maria, 1. Caso 0304/87, 2012, infografia, 80 x 60 cm.

Vitor Carvalho, Sem título, 2011, fotografia, 70 x 70 cm.