Jogos de Dados

Série Jogos de Dados. Laminado sobre madeira 90x90cm
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Série Jogos de Dados. Laminado sobre madeira 38x58cm
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Série Jogos de Dados. Laminado sobre madeira 69x91cm

GERALDO DE BARROS

Geraldo de Barros é decisivamente um artista plural. Nascido em Xavantes, SP, em 1923, foi artista plástico, fotógrafo e designer, gráfico e de produtos, tendo exercido estas atividades com igual competência e intensidade por toda a vida, até seu falecimento em 1998. Após estudar artes plásticas com Collete Pujol e Yioshida Takaoka, se dedica a pintura e mais fortemente, a partir de 1946, à fotografia, dentre outros no Foto-Clube Bandeirante, com inúmeras exposições e premiações no Brasil e no exterior. Fundou o Grupo Ruptura de artistas do “movimento da arte concreta” em São Paulo em 1952, junto com Waldemar Cordeiro, tendo participado de diversas Bienais de São Paulo, inclusive com salas especiais. Na 2ª Bienal teve prêmio de aquisição de pintura e organizou a sala de Fotografia, o que elevou seu status na época a se igualar às categorias artísticas mais nobres. Chamava seus trabalhos de Fotoformas, pois os identificava como uma forma de gravura, realizando intervenções visuais nas fotos, e abusando das duplas exposições.

Foi professor de fotografia no IAC, o famoso Instituto de Arte Contemporânea, fundado por Pietro e Lina Bo Bardi. Criou ainda um laboratório fotográfico no MAM-SP, algo inteiramente inédito na época. Participa ainda da fundação do Grupo Rex Time em 1960 com Wesley Duke Lee e Nelson Lerner realizando os primeiros “happenings” em São Paulo. Na pintura teve uma fase realista, mas influenciada pela noção de gestalt, que nos anos 60 retratava tanto a Pepsi-Cola como o “Holiday on Ice”. Seu trabalho situa-se na proximidade da obra de Wahrol e Liechtentstein, uma verdadeira incursão ao Pop, que ele conhecia bem por meio de suas fotografias.

Como designer realizou diversos projetos gráficos, dentre outros os cartazes para a Bienal de São Paulo, do IV Centenário, do Festival de Cinema, o símbolo da Equipesca, todos em parceria co Alexandre Wollner. Criou em São Paulo, em 1954, a Unilabor (significando a “união do trabalho”), liderada pelo frei dominicano João Batista Pereira dos Santos, uma cooperativa de trabalho para a produção de objetos e mobiliário que passassem do artesanato para a produção seriada. Fundou também o escritório Forminform, junto com Alexandre Wollner (na sua volta de Ulm) e Ruben Martins, que pode ser considerado como o primeiro escritório de design do país, no qual veio trabalhar Karl Heinz Bergmiller. Em 1964 fundou a Hobjeto, em parceria com Aluísio Bione, empresa de mobiliário residencial e de escritório, com lojas no Brasil inteiro, com o objetivo de socializar o bom design e onde atuou até o final de seus dias. O Beliche modular e empilhável, uma peça emblemática de sua autoria foi premiado com o prêmio Roberto Simonsen concedido na IV Feira UD Utilidades Domésticas de 1965, além de outros certificados que recebeu nas feiras UD de 1966, 1967, 1968 e 1969. Realizou inúmeros projetos de mobiliário experimental, doméstico ou para escritórios, utilizando injeção de poliuretano rígido estrutural ou de aglomerado recortado e laqueado, por exemplo, processos originais e inéditos. Participou com seus produtos da exposição Tradição e Ruptura no SESC Pompéia, em São Paulo – SP em 1984.

Sua maior influência na pintura foi Max Bill, que conheceu quando estudou em Paris, em sua viagem pela Europa e por quem teve forte e longa amizade. Max Bill esteve no Brasil em 1951 para uma retrospectiva e para uma viagem de estudos em 1953 e o convidou para participar na HfG Hochschule für Gestaltung, a famosa escola de design de Ulm, que organizava na época. Geraldo enviou em seu lugar seu amigo e companheiro de projetos Alexandre Wollner, por razões de ordem familiar.

Geraldo de Barros expôs ainda sua extensa obra fotográfica em instituições como no Museu da Imagem e do Som de São Paulo e no Musée de Elysée em Lausanne na Suiça, em 1993 onde foi homenageado. Teve sua obra em artes plásticas documentada por autores como Roberto Pontual, Pietro M. Bardi, Walter Zanini, J. Klintowitz e Carlos Cavalcanti, dentre outros. Seus quadros estão presentes nos principais museus brasileiros e do exterior. Após um acidente vascular cerebral e até o fianl da vida voltou a se dedicar às artes plásticas realizando obras em laminado plástico qeu expôs em Veneza, Itália; no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, SP; na UNICAMP, em Campinas, SP; no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, RJ, dentre outros locais. Foi também convidado a elaborar um Painel para o Metrô de São Paulo.

A coleção aqui exposta faz parte do conjunto “Jogos de dados”, exibidos primeiramente na Bienal de Veneza em 1986, na Galeira Milan em São Paulo em 1987 e pertencente a Galeria de Arte da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, por doação do autor. Geraldo de Barros anteriormente foi o artista escolhido para a exposição inaugural dessa galeria. A doação do “Jogos de dados” à Unicamp foi intermediada em 1989 por seu amigo e companheiro de fotografia Ademar Manarini e tinha por intenção manter estas obras em seu conjunto.

Este conjunto representa de forma inequívoca a linguagem da vanguarda construtiva brasileira. Ele destaca a polivalência das formas, em seus efeitos sobre a nossa percepção, admitindo diversas leituras, enfatizando o jogo de palavras onde os “dados” das cores e das formas vinculam objeto e sujeito, como só Geraldo de Barros soube fazer.

Freddy Van Camp
Designer e Professor

(texto escrito para o Catálogo da exposição “Grupo Vanguarda Geraldo de Barros” – Obras do Acervo da Galeria de Arte da Unicamp, no Espaço Iguatemi, Shopping Center Iguatemi, Campinas, SP, 16 a 30 de novembro de 2006.

exposição: 13/02 a 12/03/2001

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