Vestígios do Cotidiano

Galeria de Artes da Unicamp

apresenta

VESTÍGIOS DO COTIDIANO

adriana bighetti
carmem lucia fagundes
cássia denise gonçalves
cássia geciauskas sofiato
davi gangi
fabiano alves ferro
janaína da costa sabino
kleber algusto marques
lilian sagio cezar
márcia eliza de paiva gregato
marco aurélio valente alberte
maria leandra bizello
mariana meloni vieira botti
regina rocha pitta
roberto berton de ângelo
suzie adriana signori caetano
tatiana mateus rivero rodrigues
thaís rosário da silveira
vitória regina mendes fernandes

A exposição “Vestígios do Cotidiano” mostra uma seleção de trabalhos fotográficos de alunos da disciplina AM 527, Multimeios e História da Fotografia, do Programa de Pós-Graduação em Multim

VESTÍGIOS DO COTIDIANO

Pedaços
de Mim #2
Impressões sobre voil.
dimensões variadas.

Pedaços
de Mim # 1
Plotter adesivo sobre pvc e plotter de recorte com texto extraído
do poema Heráclito de Jorge Luís Borges.
60 x 180 cm

OS LIMITES DO RESGATE

Uma das características mais elementares de toda manifestação artística é colocar o espectador frente ao imaginário, seja ele coletivo, quando são ressaltados traços comuns a um grupo determinado de pessoas, ou individual, revelando pontos intransferíveis devido a quase absoluta singularidade de cada indivíduo. Espera-se que após a experiência da fruição estética proporcionada por uma obra de arte, o sujeito em questão saia, se não melhor, pelo menos enriquecido pelos sentimentos suscitados. E é isso, em parte, o que diferencia um trabalho com qualidades inegáveis de outros cuja beleza fica apenas na pretensão do artista.

A artista plástica Suzie Signori, com as obras denominadas “Pedaços de Mim”, busca, através do resgate de sua memória e a de seus antepassados, uma (re) aproximação com um real que não mais existe e, assim, a discussão do próprio real, do simbólico e do imaginário, tão caros à psicanálise lacaniana, faz-se presente nestas obras. E, por falar em psicanálise, não devemos esquecer que ela se configura como o terreno fértil por excelência do desejo, outra constante nesses trabalhos.

A retenção de imagens familiares se dá ou através de slide sobre parede ou com impressões sobre voil branco. No slide, a cena de uma mãe que observa os dois filhos no quintal passaria despercebida não fosse o fato de a mãe assumir, com a ajuda de uma luminosidade inesperada, uma expressão de sacralidade, nos remetendo às lembranças de um período (perdido) de inocência, quando ainda não estávamos contaminados por um senso crítico e acreditávamos (acreditamos) que a felicidade era (foi) possível.

As imagens impressas no voil, mais do que as outras, nos colocam frente a frente com o caráter fugidio do tempo. O próprio tecido, com sua transparência e maleabilidade, parece querer nos defrontar, o tempo todo, com o evanescente, com o que nos escapa, com aquilo que coloca em xeque a nossa ilusão de sujeitos centrados e donos do nosso destino.

O desejo, aqui, se coloca como irrealizável uma vez que o que foi vivido não pode ser resgatado em sua inteireza. Ficaram as impressões de um tempo, a nostalgia de uma época relembrada com um misto de alegria e pesar. Mas será que a satisfação de qualquer desejo foi completa algum dia? Por que vivemos o tempo todo desejando? Por que o desejo é parte constituinte de todo sujeito? Simplesmente porque sempre falta algo e, toda vez que o desejo retorna, é essa falta que nos fisga.

Em relação ao real que se procura resgatar em vão, é mister perguntar se alguma vez vivemos o real em toda sua intensidade. Não, porque o real não existe, o real é intangível, assim como tempo. O real, como concebemos, é interpretado o tempo todo, de maneiras diferentes por cada indivíduo e, por isso, nunca o atingimos integralmente. E é devido a essa constante interpretação, a essa contínua simbolização, que somos passíveis de representações imaginárias, que somos capazes, inclusive, de produzir e consumir arte.

Suzie Signori nos presenteia na mostra, com a possibilidade para fruir, refletir, sentir, pensar, repensar, confrontar certezas, instigar, sangrar velhos conceitos.

Texto de Pedro Roberto da Silva

Jornalista e crítico, maio 2003

 

A exposição “Vestígios do Cotidiano” mostra uma seleção de trabalhos fotográficos de alunos da disciplina AM 527, Multimeios e História da Fotografia, do Programa de Pós-Graduação em Multimeios, ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Berton de Ângelo.

Os trabalhos autorais apresentados são fruto de uma reflexão teórica sobre os principais conceitos encontrados no percurso da história da fotografia e resultam de pesquisas imagéticas produzidas em ensaios fotográficos e laboratórios de criação.

As obras apresentam temas diversificados, advindos de releituras do mundo pós-moderno, de manifestações, traços, impressões e vestígios do cotidiano, apropriações e desconstruções de paradigmas, situando-se entre as manifestações atuais da fotografia contemporânea.