Tecidos: Epidérmicos e Têxteis – Invólucros de Proteção, Adorno, Modificação | Galleria
Sala 1
Tecidos: Epidérmicos e Têxteis – Invólucros de Proteção, Adorno, Modificação
A contiguidade entre os termos tecer e texto nos permite acrescer à função de tecelão à de contador de histórias e/ou de organizador do mundo. Para nossos ancestrais mais longínquos, cujos corpos e o modo organizacional do cotidiano se vinculavam às esferas da magia e do sagrado, as interligações entre estes termos eram manifestas, tanto na escolha da trama do tecido, como nos elementos usados para sua feitura. Ambos exprimiam a mitologia e a cultura a qual estavam engendrados.
Simbolicamente relacionado ao destino de cada indivíduo, à criação do universo e do homem, o ato de tecer pode ser pensado como um ato ritual cuja realização visa, através da matéria-prima utilizada, das cores empregadas, dos desenhos realizados e da intenção para a qual a peça é confeccionada, obter o pretendido, agradecer o adquirido, potencializar os dons inatos.
Objetivos análogos são encontrados, seja na realização de inscrições corporais feitas no tecido epidérmico, através de técnicas como tatuagem, piercing, escarificação, seja na utilização de adornos sobrepostos ao corpo.
Como descendentes do homo religiosus, herdamos modos de pensar e de agir pertencentes às esferas supracitadas. Dentre este legado estão os invólucros corporais que adensam entre suas competências a função de proteção imaterial, ou seja, que se relacionam com o sagrado e/ou com a magia.
Beatriz Ferreira Pires
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Sala 2
Galleria
Denpasar, 15 de maio de 2015.
Galleria,
Há um ano desejo dar um nome para o conjunto de objetos que lhe estou apresentando. Desejaria intitulá-lo “De verdade”, porém ainda me espanto ao ser convencido das suas existências e, por isso, de suas flagrantes autonomias. O que são para ti? Colagens, recalques, utopias, memórias, fantasias fragmentadas? Através de coisas estranhamente familiares, semblantes que nos intrigam, símbolos massificados, cores dissonantes, formas e materiais apontam para sintomas que os espaços hegemônicos de produção do conhecimento – hospitais, universidades, bancos, laboratórios, etc. – não detectam: os sonhos.
Salas e gavetas, cápsulas e frascos, ou caixas, durex e iphones são tudo a mesma coisa: mensagens presas em seu meio. E ao redor de tudo isso, nós. Mas uma galeria de arte não: tu deves conter um alarme em forma de segredo que faz os significados do mundo entrarem em colapso.
Tome tais objetos por cartas redigidas ao contrário: cabe a ti criar o envelope que não existiu. E também é de seu arbítrio dizer sim ou não, mas sobretudo talvez. Pois talvez sejam tais objetos mensagens que se condensaram na duração entre um emissário anônimo e receptores desconhecidos. Alguma coisa comum os aproxima; entretanto, é redundante dizê-lo sob o ponto de vista de quem os criou e o mesmo autor do texto que o leitor agora tem à sua frente.
Retornarei em breve,
Felipe Tonelli