O Teatro da Memória

George Rembrandt Gutlich
ARQUITETURA
Quem vê a obra de G. Gutlich, da qual apresentamos aqui um minúsculo recorte, se dá conta da complexa tarefa do artista que produz figuras. Identificamos nela o conhecimento, mais do que isso, a consciência de uma tradição que alicerça novos fazeres, novas percepções, sustentada por uma ponte mental frágil, cheia de armadilhas, entre o conhecido e o não sabido, entre consciente e inconsciente. As imagens de ruínas revelam esta quase (ou total) impossibilidade de conquista plena, expõem a impermanência dos esforços humanos e a fragilidade de nossos sonhos mundanos. Por outro lado, testemunham um desenho, um desígnio nas estruturas descarnadas das construções abandonadas, despojadas de seus excessos, revelando, em seus vazios, a Natureza enfim. É com este reconhecimento de seu limite que a Arquitetura cede e reencontra a Paisagem no que ela tem de força e espaço e dela absorve um novo sentido, uma possibilidade de reconstrução a partir do que é essencial. Um tronco – coluna, um céu – abóbada, uma planície – viga.
As ruínas fabris, testemunhos de um Novo Mundo que já vai se tornando velho, somam-se às ruínas de templos e de prédios públicos de um passado mais longínquo, mas compartilham com elas uma existência estranha de vida e morte, de presença e ausência, fazendo delas imagens arquetípicas, eternas.
Se repararmos bem, as figuras de G. Gutlich são sempre retratos, retratos de árvores, de prédios, de naves. Contém, enfim, aquilo que o artista e teórico renascentista, Leon Battista Alberti, evocava ao falar da Pintura: a capacidade de “tornar presentes os ausentes”, de vivificar o que parece morto ou passado. Daí a grande beleza de seu trabalho.
Ernesto Bonato. Março de 2011.

 

Defesa de Doutorado em Artes Visuais: 19 de dezembro de 2011, às 14h
Orientação: Profa. Dra. Ivanir Cozeniosque Silva

Visitação: 05 a 19 de dezembro de 2011, das 9:00hs às 17:00hs.

ENCONTRO COM O ARTISTA George Rembrandt Gütlich
Com a presença do artista Ernesto Bonato

Dia 14 de dezembro, às 14h

Local da defesa, exposição e encontro com os artistas:
Galeria de Arte UNICAMP/IA
Térreo da Biblioteca Central César Lattes
Barão Geraldo, Campinas/SP.
f. (19) 3521-6561


George Gutlich: O poder da expressão

A arte da gravura encontra em George Rembrandt Gutlich um representante visceral, daqueles que dedicam a sua vida não tanto ao desenvolvimento de um tema específico, mas sim ao aprimorar um pensamento e discutir questões técnicas tanto no ofício da feitura como no da impressão.
Seu ateliê em São José dos Campos, SP, funciona como centro de discussão de propostas estéticas e também de experimentação de formas de expressividade, em que alunos e professor debatem e trocam processos que podem levar a uma melhor realização de projetos individuais.
Do conjunto da obra de Gutlich, que também faz incursões pela pintura, há dois universos que se interligam em diversos aspectos, embora aparentemente afastados. O que eles têm em comum é justamente o princípio de que o amadurecimento plástico é uma constante e os melhores trabalhos não são os já feitos, mas aqueles que estão por vir, num autêntico e sincero caminhar.
Um universo do artista, nascido em São José dos Campos em 1968 e filho do pintor holandês Johann Gutlich, que veio para o Brasil no começo da década de 1950, é o que se alimenta de paisagens. São cenas urbanas, preferencialmente de galpões e ambientes semi-abandonados em que o foco é a arquitetura como um diálogo visual com o espaço.
A ausência do elemento humano surge como fato significativo na poética do artista. O que se tem é a exploração dos claros e escuros de modo a configurar um universo em que as áreas em branco ganham uma dimensão próxima ao metafísico, já que a discussão que se instaura é a da inserção das construções humanas no espaço e o seu abandono.
Quando se trata de lançar os olhos sobre o universo rural, é o banhado, região de São José conhecida pelas suas zonas encharcadas e a constante bruma matinal. Esta última ganha, na forma de expressão da gravura, várias conotações e visualizações, tanto no que diz respeito à questão ecológica quanto à oportunidade de exercitar-se tecnicamente, juntando o pensar bem ao saber fazer.
Um outro segmento de trabalhos, distinto no assunto, mas muito próximo em relação ao olhar lançado sobre referenciais concretos, é o que se volta aos brinquedos antigos, colocados nas mais diferentes composições, num exercício que se realiza na temperatura plástica de naturezas-mortas européias, mas com uma acurada pesquisa que passa pela discussão dos materiais e processos.
Com uma ampla cultura de referências visuais e de leitura, George Gutlich absorve idéias tanto do mundo greco-romano como do italiano. Isso pode ser comprovado na reflexão que interliga a Torre de Babel, de Pieter Bruegel, à paisagem ao fundo da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Assim, cada nova pesquisa mantém das antigas as leituras e vivências como aluno, professor e autor, por exemplo, de Arcádia Nassoviana: natureza e imaginário no Brasil holandês.
É no universo das suas cartografias artisticamente transformadas que Gutlich perfaz sua caminhada pelas artes visuais. Como um de seus ícones preferidos da série das imagens inspiradas na infância, o ventilador, ele dissemina sua erudição, sensibilidade, poder expressivo, capacidade criadora e olhar treinado de impressor, em seu próprio trabalho e no de seus alunos, tornando-se um dos principais gravuristas, em talento e influência, de sua geração.

Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).


CURRICULUM RESUMIDO de GEORGE REMBRANDT GUTLICH

São José dos Campos, 1968.

– Bacharel em Pintura pela Faculdade de Belas artes de São paulo, S.P. 1989;
– Especialista em Museologia, Instituto de Museologia de São Paulo, 1991.
– Mestre em Ciências Ambientais, Universidade de Taubaté, 2002.
– Doutorando pelo Instituto de Artes da UNICAMP, com tese intitulada: Teatro da Memória; a eloqüência das ruínas na paisagem urbana. A Partir de 2008.

Estágios:
– Serviço de restauro no Teatro Municipal de São Paulo, SP
– Setor de Museologia do Museu Lasar Segall, São Paulo, SP

Atividades docentes:
Professor na Oficina de Gravura da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, São José dos Campos , desde 1991.
Professor da disciplina Plástica no Depto. de Arquitetura UNITAU – desde 1991.
Professor nas disciplinas Estética I e II e de História da Arte, no Depto. de Arquitetura da UNITAU, desde 2001.
Membro participante do Núcleo de Preservação do Patrimônio Cultural e do Projeto de restauro do Solar da Viscondessa de Tremembé.

Publicações:
– CD-ROM e catálogo : Johann Gütlich, o percurso do artista, 1997.
– Ensaio para a Revista Museu, 2003.
– Livro Arcádia Nassoviana, pela editora Annablume, de São Paulo em regime de co-edição com a FAPESP, 2005.
-Revista brasileira de Psicanálise, São Paulo, 2006 e 2007.

Principais exposições coletivas:
– Galeria Volpi – 1985, 87 e 89
– Museu de Arte Contemporânea de Campinas – 1993
– Coletiva de Gravadores Paulistas – UNB – 1994
– Internacional Mail Art – Havana, CUBA – 1995
– Bienal de Santos – 1995
– Múltiplas Abordagens em torno da Gravura – Jacareí – 1998
– Gravadores Joseenses – Universidade do Vale do Paraíba – 1999
– Mostra Gravura Rio – Rio de Janeiro – 1999
– Cartografias Poéticas -Galeria Gravura Brasileira – São Paulo – 2000.
– Faculdade Santa Marcelina, São Paulo-2000.
– Museu Gran Vasco, Viseu, Portugal-2001.
– Brasilianische landschaft, Berlim, 2004.
– Homenaje al caracol, Guadalupe, Zacatecas, México, 2006.

Principais individuais:
– Galeria Entreartes – 1990
– Galeria Volpi – 1992
– Galeria do Sol – 1994
– Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – Ibirapuera – 1995
– Sala especial no Salão de Artes de Jacareí – 1995
– Galeria SESC Paulista – 1997
– Arte Contemporânea do Vale do Paraíba – 1998
– Terceira Lição de História Natural, Galeria SESC, São José dos Campos-2001.
– Brinquedos, Sala Mário Lago, 2003.
– A Gravura em Metal, Galeria Augusta 664, São Paulo – 2003.
– Novas aquisições, Museu nacional de Malta, Valletta, Malta, 2005.

Principais em Salões:
– Salão Nacional Universitário, Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, S.P.88 e 89
– Mostra de Gravura Cidade de Curitiba – 1990
– Salão Paulista de Arte Contemporânea – 2000
– Internationaal exlibris centrum – Sint Niklaas – Bélgica -2001 e 2003
– III Festival de gravura – Évora , Portugal – 2001
– First International Bienial of Mini Prints, Tetovo, Macedônia.-2001.
– Ural Print Triennial, República do Bashkortostão-2001.
– 11a Bienal Internacional de Gravura no Vale d’Oise, França-2002.
– Print Triennial, Majdanek, Polônia, 2003.
– First International Exlibris Competition, Ankara, Turquia,2003.
– Premio Acqui, VI Biennale Internazionale per l’incisione, concorso exlibristico, Acqui Terme, Itália,2003.
– Bienal de Cerveira, Portugal, 2005.
– Trienal de Lefkas, Grécia, 2005.
– Miedzynarodowe Biennale, Polônia, 2005.
– 4a Bienal da Gravura de Santo André, 2007
– Salão de arte contemporânea de Santo André, 2008

Premiações:
– Salão Nacional Universitário, Faculdade Santa Marcelina, São Paulo,1988.
– Salão de Arte de Jacareí – 1o Prêmio – 1994
– Salão municipal de artes plásticas, Guaratinguetá-1o lugar-1995.
– Salão de Arte Contemporânea de Santo André – Prêmio Aquisição – 1996
– Salão de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto – Prêmio Viagem – 1996
– 1a Bienal da Gravura , Santo André – Prêmio Edição -2001
– Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo, 2004.
– 4ª Bienal da Gravura de Santo André, Prêmio Vila de Paranapiacaba.

Trabalhos em Espaços Públicos
– Pintura Mural na Casa do Médico – São José dos Campos, 1999.
– Prefeitura Municipal de Santo André, S.P.
– Fundação Cultural de Jacareí., S.P
– Florean Museum, Maramures, Romênia.
– Museu do exlibris, Ankara, Turkia 2003
– Museu Nacional de Malta, Valletta, Malta.2005

Curadorias:
– Coordenador do projeto extensionista Galeria Cubo Branco, pela PREX,no depto. de Arquitetura da UNITAU,2003.
– Leonino Leão, na Galeria Helena Calil, 2005.
– Gravura Paulistana: Imagem Informal, na Galeria Volpi, em 1998 e na Galeria Helena Calil, em 2006.
-“Cenários da Existência”, de Mário Lúcio Sapucahy, na Aliança Francesa, S.J.C. 2007.

Presente nas seguintes publicações:
MIRANDA, Artur Mário da Motta Miranda. Contemporary International Ex Libris Artists.Braga: Tipografia Abreu , Sousa e Braga. 2007.
LOUZADA,Júlio. Anuário de artes Brasil. São Paulo: Júlio Louzada, 1988 e 1998.