Heranças Construtivas

“HERANÇAS CONSTRUTIVAS no acervo da Unicamp”
curadoria Maria de Fátima Morethy Couto

Franco Sacchi Geraldo de Barros Hércules Barsoti Hermelindo Fiaminghi
Lygia Eluf Macaparana Maria Helena Motta Paes Mário Bueno
Raul Porto Thomaz Perina Tuneu

11 a 20 de abril de 2007

 

Grupo Vanguarda: Heranças Construtivas

As origens do movimento de “renovação da arte” em Campinas surgiram basicamente da atuação de alguns artistas que tinham o desejo comum de romper com os padrões acadêmicos estabelecidos na cidade. À medida que aumentava o acesso à arte contemporânea, a partir da realização da I Bienal de São Paulo, em 1951, os artistas sentiram necessidade de um trabalho mais consciente e começaram a buscar novas soluções plásticas.

Thomaz Perina, enquanto professor de uma escola de arte, começou a discutir sua teoria e seus métodos para ensinar. Suas idéias sobre a arte influenciaram alguns de seus alunos, os quais também assumiram a necessidade desse processo criativo questionador. Assim, Geraldo de Souza, Maria Helena Motta Paes e Francisco Biojone começaram a colocar em dúvida suas paisagens, naturezas mortas e figuras.

Em 1957, Geraldo Jürgensen chegou do Rio de Janeiro, onde terminara o curso de Arquitetura, trazendo novas experiências de exposições de arte contemporânea. Uniu-se então a Perina, seus amigos Mário Bueno e Enéas Dedecca e seus alunos. Este grupo resolveu organizar uma exposição. Raul Porto compareceu com alguns desenhos. Foram ainda convidados dois artistas italianos residentes em Campinas, Edoardo Belgrado e Franco Sacchi, além de outros nomes: Geraldo Décourt (de São Paulo), Ermes de Bernardi, Mário Carneiro (do Rio) e Lélio Coluccini.

 Isso deu então origem, em 04 de setembro de 1957, à I Exposição de Arte Contemporânea de Campinas, no saguão do Teatro Municipal. Assim, o espaço anteriormente reservado apenas para a arte tradicional começou a ceder lugar à arte nova. Após a exposição, os artistas passaram a se reunir e iniciaram a luta por um objetivo: criar a consciência da arte contemporânea na cidade de Campinas. Se autodenominaram Grupo Vanguarda e passaram a organizar a II Exposição de Arte Contemporânea de Campinas, redigindo um manifesto contendo os objetivos, princípios e estratégias do grupo, que foi publicado no Jornal do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, em junho de 1958.

A inspiração plástica na maioria das obras dos artistas do Vanguarda daquele período fazia grande referência ao concretismo, o que se deve também a um produtivo entrosamento com o grupo concreto, que mobilizava o cenário nacional na época. Devido a um amistoso relacionamento, Décio Pignatari, Waldemar Cordeiro, Maurício Nogueira Lima e Hermelindo Fiaminghi procuravam dar apoio aos artistas de Campinas. Primeiramente articularam uma exposição na Galeria das Folhas de São Paulo, que representava na ocasião um importante acesso ao panorama artístico paulistano fora das mostras oficiais.

Em novembro de 1958, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Ronaldo Azevedo, poetas concretos, compareceram para o fechamento da IV Exposição de Arte Contemporânea de Campinas e consideraram a mostra à altura do que se fazia em São Paulo e Rio.

Waldemar Cordeiro, a quem coube a apresentação em catálogo, afirmou:

“a mostra nada tem de local, pelo contrário, chama a atenção por trazer em si a complexidade da arte contemporânea. Essa arte que deveria ser vista sob um novo olhar, com novos fundamentos, principalmente, com um método de julgamento apoiado na história. Só assim o novo que ela contém – que é o que mais interessa – poderá ser caracterizado.”

Em uma rápida análise, Waldemar Cordeiro destacou as principais características das obras expostas. Para ele, a pintura de Perina afirmava o novo por meio do abstracionismo lírico, ao depurar ao extremo os elementos da paisagem; Franco Sacchi, na geometrização dos elementos da paisagem urbana; Raul Porto, nas contradições ótico-geométricas, criando simultaneidade figura-fundo; Mário Bueno, na clareza e espontaneidade de suas composições abstratas, com poucas cores; Geraldo de Souza, na economia de elementos em composições abstratas, atingida pela correlação das cores; Maria Helena Motta Paes, criando reforço dramático por empastes e reboques em pintura tátil; e Geraldo Jürgensen como escultor, utilizando-se de movimentos e espaços vazados com emprego de elementos concretamente definidos, como redes metálicas e arames.