Um Ou Outro Lugar | Eu Sei Tudo Sobre

A Galeria do Instituto de Artes – GAIA/UNICAMP convida para as exposições que ocorrerão no mês de maio de 2017.

Abertura 11 de maio de 2017 | Visitação 11 a 31 de maio, das 9h00 às 17h00.
Conversa com as artistas: 11 de maio às 13 horas.

 

 

As pinturas surgem como idéia a partir de fotografias que recolho em jornais, revistas, livros ou na internet. Elas ficam arquivadas e ao iniciar um trabalho faço a seleção. Este momento é tão importante quanto o processo da pintura, pois, é onde se dá o envolvimento com o trabalho que será realizado. Mas estas imagens sempre são um ponto de partida, uma referência, um motivo para “fazer” pintura. Por ser uma referência, estas fotografias não significam e nem interessam para mim, como reprodução de imagens.

Durante a pintura essas imagens estão em constante mudança. No início, algumas vezes, as cores são mantidas como a imagem original, mas vai acontecendo naturalmente uma transformação, porque a intenção não é copiá-las. Algumas vezes acontece um desligamento total da referência, em outras não, a imagem se mantém reconhecível.

Construir, destruir, reconstruir, leva-me a ver que uma imagem real trabalhada, mostra-se outro lugar, outro espaço que pode ou não acolher o outro.

Um ou outro lugar, título da exposição, se propõe a apresentar pinturas onde o espaço, seja interno ou externo, aponte para a necessidade momentânea de uma pausa e um distanciamento dos acontecimentos do mundo. Um minuto suspenso, ausência do som, trazendo um estranhamento que algumas vezes não queremos prolongar.

Fabiola Racy

 

 

 

Eu sei tudo sobre; digo, sabemos quase tudo sobre…

Dentre as muitas situações pelas quais nos envolvem a arte e os artistas encontramos, talvez como um dos pontos de maior interesse na contemporaneidade, o recorte que esse sujeito e seu projeto de arte nos propõem como mirada poética. É O COMO, para além do O QUÊ se propõe hoje como arte que nos instiga a conhecer, visitar, eleger, colecionar. Quando essa produção pauta-se pelo fotográfico, como é o caso da artista Vane Barini e de sua produção, essa condição entre o como e o quê propõe novo equilíbrio pautado pelas múltiplas linguagens eleitas por ela para constituir cada trabalho: fotografia, vídeo e livro de artista. Nesse conjunto, o caminho intermediado pela combinatória dentre maquinário e testemunho ante as coisas do mundo nos chama a atenção pela espessura poético-conceitual daquilo que é eleito a tornar-se artístico.

O modelo de operação aplicado por Vane nessa série de trabalhos apresentados na Galeria do Instituto de Artes da Unicamp nos conduz a universos em que sua hábil expectação diante da paisagem e o que ela engendra garante a construção de imagens instigantes do cotidiano urbano. Sua poética frequentemente interessada nos territórios distantes do globo, que visita com regularidade, nos apresenta agora sua atenção pelo que está próximo, por um tipo de vizinho que não é o da morada, mas sim um outro que nos habilita como grupo, aquele outro que habita espaços de convívio comuns, coadunados pela urbanidade da qual fazemos parte.

Nesse sentido, quando ela nos propõe saber tudo sobre… indica-nos um percurso criativo que busca transformar o espectador em interlocutor das cenas urbanas que pesquisa, coleciona e burila, ao longo de dilatados períodos de tempo. Convida-nos a compartilhar de certo conhecimento tácito referendado por nossa relação em grupo, um tipo de conhecimento intermediado pelas camadas de experiência visual que compartilhamos em acordo. Uma vez tornado interlocutor, o sujeito que dá sentido a essas imagens de cenas urbanas revela outro dado da metodologia criativa de Vane, a reforçar seu laço de formação pelo campo da fotografia: seu trabalho nos remete ao aforismo de Alfred Jaar que conclama que “You do not take a photograph. You make it”. Construir ao invés de tomar para si, significa assim, dar sentido à presentidade que configura a imagem fotográfica na atualidade; verifica o grau de consciência crítica em relação àquilo que se torna objeto de expectação, análise, predileção.

Nas imagens construídas por ela o elemento do anteparo está sempre presente, física ou conceitualmente. Vane atua na cena_que deseja como arte_de modo a construir uma métrica muito específica para as distâncias entre seu olhar, o contexto da paisagem urbana e a imagem ou a sequência de imagens que constroem seus trabalhos. Assim, é pela vidraça que ela aponta a perspectiva de seus interesses e constitui sua mirada poética.

Desse modo, é sempre atravessamento: é através, e nunca por meio de algo que Vane constrói um universo inteiro de narrativas que não nos contam o todo daqueles personagens, mas sim, possíveis verdades sobre eles ou sobre como destinamos determinados lugares para eles em nossa consciência. É pelo atravessamento físico e imaginativo das camadas visuais compartilhadas por determinados grupos sociais que seu trabalho nos invoca a compreender os múltiplos sentidos da construção fotográfica; as leituras do corte temporal que essa linguagem proporciona, distinta hoje daquela ideia originária de registro-como-verdade. O uso que se empreende aqui do dado fotográfico é o gerador da espessura própria da imagem artística. Tal qual a parábola do cego que conduz outro cego, temos na relação estabelecida entre a arte e suas múltiplas qualidades de visualidade, o borrão caracterizador do contemporâneo. É essa direção a ser seguida para a leitura desse conjunto de trabalhos aqui expostos.

Por fim, entende-se que a produção de Vane Barini sugere seu acordo com o que Charlotte Cotton discute a partir da noção das relações possíveis da Fotografia como Arte Contemporânea (2013): uma capacidade duradoura da fotografia em transformar até o menor dos temas num gatilho da maior importância para o imaginário.

Sylvia Furegatti
Maio.2017