Strata
Galeria de Arte
apresenta
STRATA – INSTALAÇÃO DE ISMAR CURI curismar@ig.com.br
exposição: 19/05 a 04/06/2004
Exposição como parte da dissertação de Mestrado em Artes (25 de maio de 2004, às 14h), orientada pela Profa. Dra. Anna Paula Gouveia e co-orientada pela Profa. Dra. Maria de Fátima Morethy Couto.
Nesse longo processo de ir e vir pelos corredores de asfalto das estradas a atenção acabou dirigida àquelas “grandes obras de arte”, (obras de infra estrutura para a construção de estradas) e a experiência já se prolonga por mais de cinco anos, acabou por afetar a prática do olhar, e consubstanciar uma produção artística a partir da reflexão sobre os conceitos de especificidade do lugar.
No caso das estradas e suas obras, a gigantesca escala é apropriada para a visão à distância, que pode ser efetuada a bordo de um automóvel ou de um ônibus. A paisagem singular avistada com o veículo em movimento permite que a visão se dê em planos sucessivos que se movimentam reciprocamente provocando o fenômeno da paralaxe, tal como num jardim imprevisivelmente romântico [1] . São tão variadas as vistas em pouco mais de uma ou duas horas de percurso que as imagens se embaralham. Só a constância e a sensibilidade poderá realizar uma descoberta importante, pois o lugar especialmente escolhido depende do momento certo nessas obras em constante mutação; por exemplo, no quilômetro 104 da rodovia Dom Pedro I (figura que ilustrada o convite), durante as obras de construção da nova entrada para Barão Geraldo, foi necessária a consolidação de uma encosta com gabiões feito em sacos de terra, que permaneceram lá durante um curto período, depois do qual nem um sinal dessa obra de infra-estrutura restou naquele ambiente. O problema dessa estética efêmera é compensado pela sua repetibilidade; são tão comuns esses procedimentos nas margens das estradas, quanto suas formas são bastante simples: variam as dimensões e geometria para adaptarem-se à função pretendida. Transformar essas singularidades visuais em material de exibição para galeria comporta aquilo que Guattari descreve como a coexistência das potências do caos com as da mais alta complexidade, algo que para ele parece caber aos arquitetos e urbanistas, mas que no caso da pesquisa sobre as obras infra-estruturais pode ser reputado especificamente às figuras do artista e do engenheiro, que através da lógica do caos podem examinar pontos de singularização e transferir do espaço para a subjetividade coletiva essas percepções [2] . A instalação comportará fotos de uma sucessão de obras que se deram ou estão ocorrendo entre as rodovias Anhanguera, Bandeirantes e D. Pedro entre Campinas e São Paulo, junto com fragmentos materiais colhidos diretamente dos lugares da forma como se dão nessas obras: terra compactada, ensacada e gaiolas de aço contendo pedras britadas, além disso uma ilustração com o mapeamento dos lugares. [1] Paralaxe é o deslocamento da posição aparente de um corpo devido à mudança de posição do observador. Nas ruínas greco-romanas o fenômeno era muito apreciado, pois a inexistência de paredes permitia que uma série de colunas pudesse ser vista em superposição, ou por discrepância dependendo da posição relativa do observador. Também nos jardins românticos ingleses o desvelamento de paisagens ocultas poderia se dar por paralaxe, dependendo da posição relativa do observador. Construídos assim os jardins ingleses e as ruínas greco-romanas tanto atraíram os espectadores do período romântico. [2] GUATTARI, Félix, Caosmose, São Paulo, Ed. 34, 1992, pgs. 162 e 178. leia matérias de jornais sobre a exposição : |
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